Marcius Azevedo, Renan Fernandes, Gabriel Melloni, O Estado de S.Paulo
Um novo capítulo da mais recente rivalidade da NBA começa a ser escrito hoje, às 22h, quando a bola subir na Oracle Arena, em Oakland – a série será transmitida pela ESPN. Pela quarta vez consecutiva, Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers decidem o título da principal liga de basquete do mundo, fato nunca antes visto em qualquer torneio profissional dos Estados Unidos. Vencedor em dois dos últimos três duelos, o time da Califórnia aposta em um estrelado elenco para consolidar sua dinastia. No entanto, terá pela frente o enorme desafio de superar o “melhor” LeBron James das últimas temporadas.
Mesmo já sendo um veterano de 33 anos, com 15 deles na NBA, o astro dos Cavaliers tem o melhor desempenho ofensivo nos playoffs desde o primeiro encontro das duas franquias, na temporada 2014-2015. O ala registra média de 34 pontos por jogo, com aproveitamento de 54,2% nos arremessos. LeBron também está distribuindo mais assistências (8,8) do que nos anos anteriores. Apenas o número de rebotes (9,2) caiu um pouco, mas é superior ao da edição passada. Detalhe: são sete jogos com 40 pontos ou mais, o que o deixa atrás apenas da lenda Jerry West, que conseguiu tal feito oito vezes em 1965.
Essa dependência do Cleveland Cavaliers de seu principal astro foi acentuada nesta edição, após o elenco ter sido praticamente remontado em duas oportunidades. Pouco depois da derrota na última final, o armador Kyrie Irving pediu para ser negociado. De sua troca, o time de Ohio recebeu Isaiah Thomas e Jae Crowder, do Boston Celtics. Também foram adicionadas outras peças importantes como Derrick Rose e Dwyane Wade, parceiro de LeBron James no Miami Heat.
Sem perceber química de jogo e com resultados ruins, a direção resolveu fazer outra grande reestruturação no grupo com a temporada em andamento. Como nenhum dos jogadores citados permaneceu na franquia, LeBron precisou jogar todos os 82 jogos da temporada regular e liderar a NBA em minutos em quadra (3.026) para garantir a classificação aos playoffs na Conferência Leste com a quarta melhor campanha da Liga.
“Essa foi uma das temporadas mais desafiadoras que já encarei. Foi uma montanha-russa. Houve bons momentos, houve momentos ruins. Todas as rosas têm os seus espinhos, né? Mas, no fim das contas, esse ano foi (e teve) tudo o que você poderia pedir de uma grande história”, desabafou LeBron depois de eliminar o Boston Celtics nas finais do Leste.
Apesar do baixo nível do elenco de apoio dos Cavs, que ainda têm Kevin Love como dúvida, o armador Stephen Curry atacou aqueles que dizem que o time é fraco. “Odeio quando dizem isso. Eles são jogadores da NBA. Tudo bem, o LeBron é incrível, teve um desempenho incrível nos playoffs e tudo mais, o que é inacreditável se você pensar na consistência, longevidade e nível de grandeza que ele mostrou. Como fã de basquete, ligar a TV e ver o que ele fez no jogo 7 (contra o Celtics)... Foi um desempenho incrível, mas não desrespeitem os outros atletas (dos Cavaliers). Eles também lutaram duro.”
Amplo favorito antes mesmo de a temporada começar, o Golden State Warriors teve de manter o foco. A franquia terminou a fase de classificação apenas na segunda posição da Conferência Oeste, com 58 vitórias e 24 derrotas. Desempenho distante do recorde estabelecido em 2016, quando venceu 73 jogos.
O treinador Steve Kerr até comemorou a pausa para o Jogo das Estrelas em fevereiro. “É doloroso ver como estão mentalmente esgotados e emocionalmente cansados. Estamos nos arrastando, para ser sincero. Precisamos tirar o máximo uns dos outros e, depois, sentar na praia para relaxar.”
MVP das finais de 2015, principalmente por marcar LeBron, Andre Iguodala está fora do jogo 1 com lesão no joelho. Mas Kevin Durant, Klay Thompson, Draymond Green e Stephen Curry ainda são um arsenal poderosíssimo contra o exército de um homem só dos Cavs.
Comparação com Jordan alimenta debate nos EUA
O impressionante desempenho do astro do Cleveland Cavaliers transformou o que era uma comparação injusta em algo palpável. Diversos veículos de comunicação conceituados nos EUA, como USA Today, NBC, Chicago Tribune, Boston Globe e Sports Illustrated, colocaram em discussão quem é melhor: Michael Jordan ou LeBron James?
Não há, claro, uma conclusão. Mas o que menos importa é escolher um ou outro. Apenas uma comparação entre eles é suficiente para entender o que representa LeBron para o basquete. Ele mesmo não aprova o debate. “Acho que me apaixonei pelo jogo por causa dele, e via o Jordan como um Deus. Nunca achei que poderia ser ele, que chegaria ao ponto que o Jordan está.”
LeBron se vê distante de Jordan, mas nomes importantes da NBA, como os ex-jogadores Isiah Thomas e Scottie Pippen, apontam que o astro dos Bulls ficou para trás. A polêmica está longe do fim.
ANÁLISE: Marcius Azevedo*
Não se pode duvidar deste homem. É difícil até torcer contra LeBron James. O que ele faz noite após noite, independentemente de quem está ao seu lado e do rival na outra metade da quadra, merece ser aplaudido de pé, seja no ginásio ou em casa, diante da TV. Vale levantar do sofá para reverenciar o astro.
Não à toa, mesmo com pouca colaboração dos companheiros, ele alcançou sua oitava final consecutiva da NBA e se manteve como o Rei da Conferência Leste. Agora, para levar o título, há necessidade de ter coadjuvantes mais participativos.
Não dá para comparar os elencos. O Golden State Warriors tem um quarteto fantástico, formado por Curry, Durant, Thompson e Draymond Green, e opções interessantes, como Livingston, Looney, Nick Young e Jordan Bell. Iguodala, ao menos no jogo 1, está fora. A turma que cerca LeBron não ocupa o mesmo nível.
Não sou de apostar. Nunca coloquei dinheiro para tentar acertar um resultado e faturar alto. Mas não vou ficar em cima do muro desta vez. Apesar de torcer para LeBron James, não vejo como o Cleveland Cavaliers possa ser campeão. Torço apenas para que o time de Ohio não seja varrido na série. O meu palpite é 4 a 1, com os Warriors conquistando o terceiro título em quatro anos na barulhenta Oracle Arena, em Oakland, no jogo 5.
*EDITOR ASSISTENTE DE ESPORTES E APRESENTADOR DO PROGRAMA ‘CESTA NO ESTADÃO’