sábado, 30 de maio de 2015

Auditoria detecta pagamento por obra inacabada em refinaria da Petrobras

Estadão Conteúdo

  • Banco de Imagens Petrobras
    Construção da Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo
    Construção da Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo

Uma comissão interna da Petrobras, que analisa os contratos de obras na Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo, entre 2005 e 2014, identificou adiantamento de R$ 60 milhões para a Andrade Gutierrez, empreiteira investigada por suspeita de cartel na Operação Lava Jato, para o gerenciamento de uma construção e montagem que na época não havia sido iniciada.
O pagamento de propina na Replan é um dos itens de acusação da Procuradoria da República no Paraná em ação penal na qual são réus o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto - presos preventivamente, em Curitiba.
A sindicância aberta em março - após denúncias de desvios pela Lava Jato - encontrou até agora 115 aditivos, em 11 contratos, que elevaram em R$ 1,3 bilhão os gastos iniciais previstos nas obras de modernização da carteira de gasolina da Replan. As constatações foram relatadas por dois funcionários da Petrobras que integram a auditoria.
"Identificamos no âmbito da comissão que em dois contatos, pelo menos, houve pagamentos no início dos contratos", afirmou André Merchioratto Risso, um dos auditores. "No caso da Andrade Gutierrez, a gente identificou que foram pagos valores da ordem de R$ 60 milhões nos seis primeiros meses de contrato a título de gerenciamento de construção e montagem." O problema é que, segundo o auditor, "nesses seis meses em que houve esse pagamento não haviam sido iniciados os serviços de construção e montagem ainda."
Risso e Claudio Hermann Junior são funcionários de carreira da Petrobras. Segundo eles, de 97 contratos feitos na Replan nesse período, foram selecionados os com maiores valores (acima de R$ 16 milhões), que representaram 89% dos gastos, e que envolviam as empresas acusadas de cartel e corrupção na estatal pela Lava Jato.

Consórcio

Outro contrato com problemas citado em juízo pelos auditores foi o realizado com o Consórcio CMMS (formado pelas empresas Mendes Júnior, MPE e Setal Óleo e Gás), em 2007, para a construção de uma unidade de hidrotratamento de sódio pelo valor de R$ 696 milhões. O gasto final foi de R$ 1,03 bilhão.
O consórcio, liderado pela Mendes Júnior, é suspeito de pagar propina por meio de duas empresas de fachada nas Diretorias de Serviços (cota do PT) e de Abastecimento (cota do PP) nas obras da Replan.

Defesas

A Andrade Gutierrez afirma que todos os contratos da empresa com a Petrobrás foram firmados dentro dos processos legais de contratação e cumpridos de acordo com o escopo, qualidade e prazo determinados pelo cliente. A empresa nega e repudia quaisquer acusações de pagamentos indevidos a políticos e quaisquer outras pessoas. A Mendes Júnior informou que "a empresa não se manifesta sobre processos em andamento".