sábado, 30 de maio de 2015

"Sigam o dinheiro", por Ruy Castro

Folha de São Paulo


No filme "Todos os Homens do Presidente" (1976), Bob Woodward e Carl Bernstein são os repórteres do "Washington Post" que expuseram a conspiração (real) armada pela Casa Branca em 1972 –o famoso Caso Watergate– para sufocar o Partido Democrata. Os repórteres tinham um informante secreto, que chamavam de "Garganta Profunda". Quando se viam embatucados, sem saber como continuar, "Garganta Profunda" aconselhava: "Sigam o dinheiro".

Queria dizer que, se seguissem a trama de depósitos, saques e propinas envolvendo alguns suspeitos, chegariam aos cabeças e talvez ao mandante-mor –o que aconteceu e levou à renúncia do presidente Nixon. O filme reflete a história como ela aconteceu, exceto num ponto: "Garganta Profunda" nunca disse a frase "Sigam o dinheiro".

Ela foi uma criação do brilhante roteirista William Goldman, já respeitado então pelos roteiros de "Butch Cassidy" (1969) e "Maratona da Morte" (1976). Talvez sem querer, foi o que Woodward e Bernstein fizeram: seguiram o dinheiro e foram dar nas entranhas do caso. Desde então, a frase de Goldman se tornou um mote para esse tipo de investigação. O mundo fica lhe devendo esta.

Há anos, muitos repórteres e agentes da lei têm tentado seguir o dinheiro que circula nas monumentais negociatas da Fifa. Mas foi preciso que essas se dessem em território americano para que o camburão do FBI saísse para recolher os primeiros implicados. O aprofundamento das investigações revelará um esquema que não operava apenas para render milhões a alguns aqui ou ali, mas para perpetuar-se como uma estrutura de poder –como um sistema que não dependesse dos operadores.

No passado, os corruptos eram avulsos e equivaliam aos ladrões de galinha. Hoje, eles usam um supergalinheiro como frente para os bilhões escusos que movimentam.