Aposto um picolé de acerola que ninguém ficou surpreso com esse bafão envolvendo a Fifa e a CBF. Há duas semanas, escrevi que, sempre que lia uma notícia sobre a confederação brasileira, me lembrava de "Os Sopranos", uma série da HBO sobre a máfia.
Teve gente que não gostou da minha "petulância". Fui chamada de "jornalistazinha de araque". Sou de araque mesmo no que se refere a futebol, mas corrupção, lavagem de dinheiro e toda sorte de trambicagem são velhos conhecidos de qualquer um que leia sobre o meio esportivo.
Imagine o que acontece se quem está metido na trambicagem é gente que controla todo o dinheiro e o poder do futebol mundial. A lama deve ser bem maior do que foi noticiado. Mas, ao contrário do que sempre acontece, ou seja, nada, dessa vez a coisa vai ficar bem preta para muita gente importante.
Em 15 anos, 13 inquéritos foram abertos contra a CBF e o ex-presidente Ricardo Teixeira, segundo informações do repórter Marco Antônio Martins, ontem, na Folha. Como eu disse: deram em nada. Algumas investigações foram arquivadas ou trancadas por determinação judicial, disse a Polícia Federal.
Isso me deixou mais curiosa para saber quem resolveu peitar os dinossauros da Fifa e protagonizar o que está sendo considerado o maior escândalo da história do futebol.
Ninguém menos do que a secretária de Justiça dos Estados Unidos, Loretta Lynch, que, para azar dos dirigentes da Fifa, assumiu o cargo há apenas um mês e já colocou em prática o seu discurso de posse. "Ninguém é grande demais para a cadeia. Ninguém está acima da lei."
Não mesmo. Em sua primeira grande operação, a senhora Lynch só pegou peixe graúdo.
No dia em que as acusações e as prisões foram feitas, ela disse que as investigações abrangem ao menos duas gerações de dirigentes. O que, nas entrelinhas, para mim, está escrito: mais gente será presa.
E foi confirmado pela declaração da procuradora americana Kelly Currie: "Essas acusações não são o capítulo final de nossas investigações". O recado é claro: é só o começo.
Aposto mais um picolé, dessa vez de chocolate, que ninguém ficou surpreso que o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, pegou o primeiro avião e se escafedeu da Suíça, deixando um José Maria Marin, no mínimo, sem apoio moral.
Pra não dizer outra coisa. Por exemplo, a essa hora, Del Nero deve ter pensado: salve-se quem puder.
Marin já é um senhorzinho e não fala inglês. Bandido, segundo o FBI, mas um senhorzinho. Senhorzinho que foi largado lá pelo seu sucessor, que, além de ser o representante atual de tudo o que a CBF faz, ainda é advogado criminalista.
Fazia sentido ele ficar lá.
Mas, depois das declarações da dupla Lynch e Currie e de as investigações do FBI o indicarem como co-conspirador, como informou a Folha, também faz todo sentido que Del Nero tenha feito o que fez. Refugiar-se em nosso Brasil varonil.
Segundo ele, para dar "explicações às autoridades e à imprensa".
Você acredita? Eu também não.
O mais engraçado é o Congresso vir agora com papo de CPI. Agora? Agora que a cavalaria ianque chegou e já começou a prender os bandidos, nossos nobres congressistas querem brincar de mocinho?
Confio muito mais em Loretta Lynch, que fez em seu primeiro mês de trabalho o que nossa polícia e nosso Congresso não fizeram em décadas.
God bless America!