sábado, 30 de maio de 2015

"Um PIB que cai", por Miriam Leitão

O Globo


A economia brasileira encolheu sob todos os ângulos. Houve recuo de 0,2% em relação ao quatro trimestre; de 1,6% sobre o primeiro trimestre de 2014; de 0,9% na taxa em 12 meses. Estão mais fracos os investimentos, o consumo das famílias, do governo, a indústria e o setor de serviços. O tarifaço da energia aumentou a inflação e derrubou a renda. A queda da confiança afetou a produção e os investimentos.
A economista Silvia Matos, do Ibre/FGV, afirmou que o instituto está revendo para baixo as projeções do ano. A queda no segundo trimestre será mais forte e há risco de recuo no terceiro. Na quinta-feira, publicamos aqui a projeção do Ibre sobre o PIB do primeiro trimestre, divulgado ontem. Era de -0,1%, e o resultado foi muito próximo, -0,2%:
— Há pouco a comemorar no dado do primeiro trimestre. Estamos revendo nossos números, tanto do PIB do segundo trimestre, de -1,5% para algo como -1,8%. O do terceiro, que estava levemente positivo, deve ficar levemente negativo. Para o ano, também há viés de baixa, de -1,5% para -1,8% — disse Silvia.
O Itaú Unibanco tinha uma projeção um pouco mais pessimista, de -0,4% no primeiro trimestre. Mesmo com o número oficial de -0,2%, a equipe do economista Ilan Goldfajn também avalia que o cenário ficou pior no segundo trimestre. A confiança dos empresários e dos consumidores voltou a cair, e o emprego formal mostrou forte fechamento de vagas em abril.
“O resultado no primeiro trimestre foi acima das nossas projeções. Apesar disso, os dados recentes apontam para uma deterioração adicional da atividade econômica”, disse o banco em relatório.
O que complicou a situação foi que, pela primeira vez, desde 1997, o setor de serviços está jogando contra o crescimento da economia. Houve recuo de 0,2% na taxa acumulada em 12 meses. Com o consumo das famílias, a análise é semelhante, houve crescimento de apenas 0,2%; o ritmo mais fraco desde 2004. Quando a comparação é feita sobre o trimestre anterior, os serviços caíram 0,7% e o consumo das famílias desabou 1,5%. Em relação ao mesmo período de 2014, os dois também ficaram negativos.
Tudo isso se soma a problemas mais antigos na indústria e nos investimentos. Os investimentos estão caindo há sete trimestres seguidos, quando se compara com o trimestre anterior. Nos últimos 12 meses, desabou 6,9%. A indústria encolheu 2,5% em 12 meses e recuou pelo segundo trimestre consecutivo.
Entre os dados positivos, está o crescimento da indústria extrativa. Nos últimos quatro trimestres, houve alta de 10,3%, e olhando apenas para o primeiro trimestre, alta de 3,3% sobre o anterior. Vale e Petrobras estão aumentando a produção, apesar da queda do preço do minério de ferro, que prejudica a Vale, e da Operação Lava-Jato, que atinge a Petrobras. Ainda entre os bons números, houve crescimento da agricultura e as exportações subiram mais que as importações.
O gráfico abaixo mede o comportamento do PIB acumulado em quatro trimestres. Isso ajuda a ver a linha de tendência. O que se observa é que depois da forte alta de 2010, quando a economia cresceu 7,6%, houve uma desaceleração até 1,8%, em 2012. O governo, então, adotou diversos tipos de estímulo para manter o crescimento, mas isso só foi suficiente para elevar a taxa a 2,8%, em 2013. Esgotadas as munições, o processo de desaceleração passou a ser contínuo e chegou ao negativo pela primeira vez desde 2009: -0,9%. A esperança é que a recuperação comece no fim do ano, para que 2016 tenha resultado positivo.