O consultor na área de petróleo Raul Schmidt Jr., suspeito de intermediar propinas aos ex-diretores da Petrobras Renato Duque e Jorge Zelada, recebeu US$ 20,6 milhões (o equivalente a R$ 65,5 milhões) no exterior entre 2011 e 2015, a título de "comissões" da Sevan, fornecedora norueguesa da estatal.
Os valores foram transferidos pela Sevan, que aluga plataformas para o pré-sal, para a conta de uma empresa de Schmidt em um banco no Principado de Mônaco.
Os documentos sobre as operações foram enviadas pelas autoridades do principado para a força-tarefa da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na estatal brasileira.
A Sevan assinou contratos com a Petrobras no valor de US$ 2,3 bilhões (R$ 7,3 bilhões) entre 2007 e 2012, referentes ao aluguel de três sondas para a petrolífera.
A documentação vinda de Mônaco contém papéis que apontam a contratação da Global Offshore Services Ltd, empresa de Schmidt sediada nas Ilhas Virgens Britânicas (paraíso fiscal no Caribe), para dar assistência à Sevan nos negócios com a Petrobras.
Extrato do banco Julius Baer, que abriga a conta de Schmidt, aponta 27 transferências da Sevan para Global de 2011 a 2015, período da investigação em Mônaco, que somam US$ 20,6 milhões.
Desse total, 15 repasses foram feitos após a deflagração da Lava Jato, em março de 2014. Os valores foram enviados de contas da Sevan na Noruega, no Reino Unido, na Holanda e em Cingapura.
Procurado em Londres, Paris e Genebra, Schmidt não ligou de volta à reportagem.
Nos dois "contratos de agenciamento" assinados entre a Global e a Sevan, os valores das "comissões" correspondem a 2,5% e 3% dos valores pagos pela Petrobras à companhia norueguesa.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou em sua delação premiada que as propinas na estatal brasileira variaram de 1% e 3% sobre o valor dos contratos.
As autoridades de Mônaco obtiveram, além dos contratos entre a Global e a Sevan, planilhas de pagamento, faturas e levantamentos bancários relativos aos negócios entre as empresas no exterior.
Com base na documentação de Mônaco, a Folha revelou que US$ 2 milhões (R$ 6,3 milhões) depositados em conta do ex-diretor de Serviços Renato Duque no país europeu tiveram origem em pagamentos do estaleiro coreano Samsung, suspeito de pagar suborno para conquistar contratos na Petrobras.
Schmidt também mantém negócios com o ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada, investigado pela PF. Eles integram a diretoria de uma empresa suíça de energia solar.
Foi Schmidt quem apresentou Duque e Zelada ao banco de Mônaco para abertura das contas em que foram bloqueados o equivalente a R$ 103 milhões atribuídos aos dois ex-diretores.
OUTRO LADO
A Sevan diz que não foi informada de apurações sobre os contratos da empresa com a Petrobras e classifica as suspeitas de "gravíssimas". Diz estar disposta a colaborar e prestar os esclarecimentos.
Os advogados de Renato Duque e Jorge Zelada, Alexandre Lopes e Eduardo de Moraes, dizem que seus clientes nunca receberam comissões ilícitas na Petrobras durante o período que ocuparam diretorias da estatal.
Ambos negam ser titulares de contas no exterior.