Janaína Figueiredo - O Globo
Ex-presidente do Boca Juniors, Mauricio Macri é a esperança da oposição
BUENOS AIRES - Depois de ter sido presidente do Boca Juniors, um dos times de futebol mais importantes da Argentina, deputado e duas vezes eleito prefeito de Buenos Aires (cargo que ocupa atualmente), Mauricio Macri é hoje a principal esperança da oposição argentina para derrotar o kirchnerismo nas presidenciais de 25 de outubro, depois de mais de 12 anos de governo. Mas Macri sabe que não será fácil e dedica cinco dos sete dias da semana a fazer campanha nas ruas, principalmente na província de Buenos Aires. É ali onde vive um terço do eleitorado nacional e o kirchnerismo ainda pisa forte.
Semana passada, O GLOBO foi o primeiro meio de comunicação estrangeiro a acompanhar o candidato e líder do PRO (Proposta Republicana) numa timbreada (timbre em espanhol significa campainha). Essa é uma das estratégias centrais da campanha em que busca, no encontro cara a cara, romper o atual empate técnico com o governador da província de Buenos Aires, o kirchnerista Daniel Scioli. Com cerca de 30% dos eleitores ainda indecisos, Macri, de 56 anos, se apresenta como "o candidato da mudança" e promete "outra forma de fazer política".
Na maioria das caminhadas por municípios e províncias argentinas, o modus operandi é o mesmo. O opositor anuncia sua atividade através das redes sociais, recebe convites para visitar famílias e uma delas é escolhida. Em Ezeiza, na Grande Buenos Aires, Macri conversou com Carlos e Carolina, pais de sete filhos, que há um ano e meio decidiram abandonar a Espanha e retornar ao país. Acompanhado por sua terceira mulher, a estilista Juliana Awada, mãe de sua caçula, Antonia, de apenas 3 anos, o candidato ouviu as demandas do casal de classe média, entre elas melhorar a educação, a segurança e o combate à inflação, e prometeu grandes transformações se o PRO chegar ao poder.
— Claramente será uma disputa entre continuidade e mudança. O governo dizendo que os argentinos devem se lembrar como estávamos em 2003 e tudo o que fizemos juntos, e nós dizendo que merecemos viver melhor. Não podemos eternamente nos comparar com a crise de 2001, que foi uma catástrofe — comentou Macri, depois de conversar com os moradores de Ezeiza.
Após a visita agendada, o candidato improvisa e busca surpreender seguidores e opositores que, em geral, reagem de forma civilizada quando ele aparece na porta de suas casas. Segundo seus assessores, alguns kirchneristas são mais antipáticos, mas a estratégia está dando certo, e o PRO pretende intensificar a campanha nos próximos meses. O foco será, cada vez mais, o contato direto com os eleitores.
De acordo com recente pesquisa da empresa de consultoria Management & Fit, o candidato opositor tem 32,2% das intenções de voto, contra 33,3% de Scioli. O PRO assegura ter outras pesquisas nas quais Macri está na frente. A realidade é que ambos são os únicos que superam 30%, e a maioria dos analistas locais coincide em afirmar que protagonizarão a queda de braço decisiva das presidenciais.
Scioli ainda deverá enfrentar as primárias da governista Frente para a Vitória (sublegenda do Partido Justicialista fundada pelo ex-presidente Néstor Kirchner) e obter o respaldo contundente da presidente Cristina Kirchner. Já Macri tem pela frente uma eleição interna com outros dois candidatos opositores, a deputada Elisa Carrió e o senador Ernesto Sanz (da União Cívica Radical). Mas ninguém duvida que Macri e Scioli serão os grandes vencedores das primárias do dia 9 de agosto.
— Nosso crescimento é impressionante. Não é minha candidatura, é a ideia de que juntos podemos construir a Argentina que merecemos — disse o líder opositor.
Macri conhece bem suas fraquezas, entre elas, a falta de uma estrutura partidária nacional.
Nos últimos meses, o PRO, que nasceu em 2003, selou várias alianças em províncias importantes como Córdoba e Mendoza, mas o kirchnerismo é superior em termos de presença nacional. O candidato está concentrando esforços na província de Buenos Aires, governada há quase oito anos por Scioli. Trata-se do principal distrito eleitoral da Argentina, e analistas locais costumam dizer que quem ganha em Buenos Aires ganha a eleição.
Ezeiza, por exemplo, é um município tradicionalmente governado pelo peronismo e hoje em mãos de um prefeito kirchnerista, vinculado a Scioli. Um território hostil, como muitos outros pelos quais Macri caminhou e continuará caminhando até outubro. Perguntado sobre o apoio popular que ainda preserva o kirchnerismo, o candidato opositor afirmou que jamais pensou que enfrentaria "um governo absolutamente enfraquecido como pensaram outros".
— O oficialismo sempre tem um piso entre 25% e 30%, e aqui é assim. Mas a maioria dos argentinos está convencida sobre a necessidade de uma mudança. São 25 anos de promessas não cumpridas - enfatizou Macri.
Segundo ele, "é preciso pensar no que queremos para nosso futuro, sobretudo levando em consideração o que aconteceu em outros países, como Brasil, Peru, Colômbia e Uruguai":
— Em todos, o crescimento foi maior do que na Argentina. Isso significa que podemos fazer mais do que fizemos e estamos fazendo.
Macri lidera um partido que surgiu no século XXI, que não é herdeiro do peronismo nem de outro partido ou figura importante da História política argentina. Filho de um empresário poderoso, formado na Argentina e nos Estados Unidos, o candidato sonha em ser o primeiro dirigente de um partido novo que chega à Casa Rosada. Por essa e outras razões, rechaçou uma aliança desejada por muitos com o deputado e ex-kirchnerista Sergio Massa, a grande revelação das Legislativas de 2013, mas que perdeu força na campanha presidencial.
— Estamos propondo uma mudança cultural, outra forma de fazer política. Massa é parte de uma discussão de poder dentro do Partido Justicialista. Eles governaram juntos nos últimos 25 anos e estão discutindo poder, não uma mudança cultural como queremos — explicou Macri, hoje o maior pesadelo de Cristina e seus seguidores.
Os principais adversário de Macri
Daniel Scioli — O governador da província de Buenos Aires é o nome mais forte entre os kirchneristas para sair candidato à Presidência. Segundo a última pesquisa, ele tem 33,3% das intenções de voto, contra 32,2% de Macri. Peronista de centro, Scioli diz que é preciso deixar as políticas de choque na economia para trás.
Sergio Massa — O deputado peronista vem perdendo terreno. Líder da Frente Renovadora, Massa aparece em terceiro nas pesquisas, com 13,8%, e em uma tendência de queda. Foi chefe de gabinete de Cristina Kirchner, mas hoje ataca o kirchnerismo. Apesar disso, Macri descarta uma aliança com o peronista dissidente.
Margarita Stolbizer — A deputada nacional e presidente do Partido GEN corre por fora, mas tem poucas chances. Mas a candidata de esquerda não peronista vem atraindo o apoio dos socialistas e de intelectuais. Ela defende maior transparência na política, a apuração dos crimes contra a Humanidade e a igualdade de gêneros.