Alexa Salomão, Ricardo Leopoldo e Vinícius Neder - O Estado de São Paulo
Na média, projeções apontam para retração de 1,5% no ano; em 1990, queda foi de 4,3%
Apesar de ter vindo melhor que o esperado, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, em relação aos três últimos meses de 2014, foi interpretado por economistas de diversas tendências como um sinal de que a retração da economia está apenas começado. Uma pesquisa feita nesta sexta-feira pelo serviço AE Projeções, da Agência Estado, com 27 equipes de economistas de mercado após o IBGE divulgar o PIB aponta para um encolhimento, na média das projeções, de 1,5% da economia este ano.
A expectativa é pior que a retração de 1,24% projetada, na última segunda-feira, pelo Boletim Focus, pesquisa feita pelo Banco Central (BC) com analistas. Entre os que estão convictos de que a desaceleração veio para ficar está o economista Affonso Celso Pastore. No início desta semana, Pastore já havia divulgado um relatório em que revia sua projeção, indicando queda de 1,7% neste ano. “O Brasil já está em recessão, só não identificamos exatamente quando começou”, diz. “Tudo indica que essa recessão não será tão profunda como a que sofremos entre 2008 e 2009, mas deverá ser bem mais longa.”
Sua projeção leva em consideração que indicadores importantes estão recuando, como consumo das famílias, vendas e confiança no varejo e na indústria. Ao mesmo tempo, o País não pode contar com os motores que foram acionados lá atrás. Estímulos fiscais do governo, redução de taxas de juros e benefícios externos, como a alta do preço das matérias-primas, estão fora de cogitação quando há ajuste fiscal, alta de juros para conter a inflação e retração nas exportações.
Ao observar a série do PIB revista pelo IBGE e a sua tendência, Pastore diz que visualmente é possível identificar uma queda contínua que teria se iniciado em algum momento do primeiro semestre do ano passado. Nas próximas semanas, o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getúlio Vargas, centro de estudos coordenado por Pastore, vai se reunir para fazer análises econométricas que possam datar o início da recessão.
Deterioração. O que chamou a atenção do economista Sergio Vale, da MB Associados, foi a indicação de uma “forte deterioração” no primeiro trimestre. Todos os dados mais importantes mostraram quedas significavas, com alguns, como serviços, apresentando recuos históricos.
O que mais causou preocupação, segundo ele, foi a piora, maior do que se esperava, do consumo das famílias: queda de 0,9% na comparação do trimestre com o mesmo período do ano anterior. “Continuamos com 1,5% de queda em 2015, mas ajustamos 2016 para uma leve queda de 0,1%, ante a alta que tínhamos antes de 1%”, disse. “Este ano, será a maior retração em 25 anos, desde 1990, na época do Plano Collor, quando a queda foi de 4,3%.”
O professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da UFRJ, chamou atenção para o fato de que o atual quadro indica que o Brasil poderá ter uma recessão de três anos, como de 1981 a 83 e de 1990 a 92.
O economista Leandro Padulla, da MCM Consultores, manteve sua expectativa de declínio de 1,5% para o PIB fechado deste ano, argumentando que os dados do primeiro trimestre vieram dentro do esperado. “Talvez o resultado (desta sexta-feira) mude um pouco a composição do PIB, mas ainda estamos fazendo os cálculos”, disse.
Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o primeiro trimestre do ajuste fiscal - quando o Tesouro fechou a torneira dos gastos de forma provisória, antes de aprovar medidas de cortes permanentes no Congresso e de anunciar o contingenciamento de R$ 69,9 bilhões, na semana passada - fez o consumo do governo cair 1,5% em relação aos três primeiros meses de 2014. É o pior desempenho desde o quarto trimestre de 2000. / COLARORAM MARIA REGINA SILVA e FRANCISCO CARLOS DE ASSIS