Aliados do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), viajaram no avião do empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, na véspera da ação da Polícia Federal em que foram apreendidos R$ 113 mil suspeitos no bimotor, em outubro do ano passado.
Voaram na aeronave o deputado federal Gabriel Guimarães (PT-MG) e seu pai, o ex-deputado federal petista Virgílio Guimarães.
Nesta sexta-feira (29), a PF prendeu Bené sob suspeita de associação criminosa. Ele é amigo do governador de Minas e ligado ao PT.
Tanto Virgílio como Gabriel foram cabos eleitorais de Pimentel na campanha de 2014.
Os dois viajaram no avião King Air, de prefixo PR-PEG, no dia 6 de outubro de 2014, um dia após a vitória de Pimentel em primeiro turno e a eleição de Gabriel para a Câmara dos Deputados.
A Folha obteve documento que comprova a rota do avião e uma foto de Gabriel e Virgílio saindo do bimotor. Outras duas pessoas também aparecem na imagem, mas a reportagem não conseguiu identificá-las.
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Deputado federal Gabriel Guimarães (PT-MG), no centro (de branco), e seu pai, o ex-deputado Virgílio Guimarães |
Gabriel e Bené têm relação próxima, e suas famílias são amigas, segundo o deputado.
Como a Folha revelou no ano passado, a dupla e Pimentel fizeram uma viagem privada a Punta del Este, no Uruguai, em março de 2014.
Na época, Gabriel disse que não falaria sobre ''assuntos de cunho pessoal''. Pimentel, que foi acompanhado de sua mulher, Carolina Oliveira, também dissera se tratar de viagem pessoal.
Nesta sexta, a polícia realizou buscas na casa de Virgílio e no apartamento em que morou a primeira-dama.
A ligação de Bené com Pimentel cresceu a partir de 2012, quando o petista se separou da primeira mulher e iniciou namoro com Carolina. Benedito e sua mulher se tornaram companhias frequentes de Pimentel e Carolina.
VIRGÍLIO
A polícia suspeita ainda que Bené tenha uma ''sociedade dissimulada'' com Virgílio Guimarães. Para a PF, o ex-deputado recebeu pelo menos R$ 750 mil de Bené.
Numa das mensagens interceptadas pela PF, Bené diz a Virgílio: "O cheque de 200 [mil] deve ter voltado. Pode pedir pra reapresentar".
Virgílio foi apontado nas investigações do mensalão como o parlamentar que introduziu o publicitário Marcos Valério de Souza nos círculos do PT para operar um caixa dois que serviu para pagar uma espécie de mesada para a base aliada.
Valério, que operava um esquema similar em Minas para o PSDB, segundo investigações da PF, foi condenado a 40 anos de prisão por conta do mensalão.
OUTRO LADO
O deputado Gabriel Guimarães (PT-MG) confirmou ter viajado no avião do empresário Benedito Oliveira e disse que foi ao município mineiro de Curvelo agradecer os votos que recebeu na eleição para a Câmara.
No dia seguinte ao voo realizado pelo parlamentar, a Polícia Federal fez uma apreensão de R$ 113 mil em dinheiro vivo na mesma aeronave, em Brasília –na ocasião estavam presentes Benedito, o Bené, e Marcier Moreira, que já foi assessor do Ministério das Cidades, pasta controlada pelo PP.
Indagado sobre o uso do avião de Bené, Guimarães disse que o voo foi cedido. "O avião foi empréstimo em um período fora da minha eleição''. O resultado da disputa eleitoral ocorrera na véspera.
O deputado não soube informar se usou o avião de Bené durante a campanha. "Tenho que checar."
Guimarães disse ainda não achar estranho que o mesmo avião, no dia seguinte, tenha sido alvo de ação da PF.
A reportagem pediu a Guimarães que ele fizesse o reconhecimento das demais pessoas que aparecem na foto, além dele e de seu pai.
O petista identificou um dos passageiros (homem na escada do bimotor) como seu primo. O outro homem, que abraça o deputado na imagem, seria uma "pessoa de Curvelo" da comitiva que o recepcionou no aeroporto.
A Folha ligou várias vezes para o ex-deputado Virgílio Guimarães e enviou mensagens de texto, mas não obteve resposta.