A janela de oportunidade fornecida pelas autoridades norte-americanas para o saneamento global de um esporte do qual elas entendem patavina está sendo avaliada pelo governo brasileiro.
Aos prós. Desde o fatídico 7 a 1, o Planalto ensaia maneiras de embarcar no desejo nacional por uma melhora de nível no futebol. Haveria um ganho de imagem e diversionismo midiático no mar de escândalos éticos em que o governo está metido, Operação Lava Jato à frente.
No lado das perdas, o problema maior é que a própria União pode acabar tragada por eventuais investigações no âmbito da Polícia Federal e do Ministério Público.
O futebol, ainda que uma atividade privada, é um feudo de políticos. E foi o governo federal o fiador maior do principal manancial de picaretagens e desvios a ser explorado: a "Copa das Copas", como o time de Dilma Rousseff batizou, lembram?
Isso para não falar na questão da escolha do Brasil como sede, com Lula na proa daquele barco.
Um escrutínio mais sério pode sobrar para todo mundo. Só um brasileiro criado numa caverna nas ilhas Pitcairn não deve ter ouvido falar em compras de resultados, juízes etc.
Mas a cultura legal brasileira valoriza muito mais o crime contra o patrimônio público do que eventuais roubalheiras privadas, mesmo com a ressalva de que a CBF seja quase paraestatal –ainda que a tragédia de 2014 tenha ajudado a amainar essa boçalidade nacionalista advogada por cartolas e interessados afins.
No campo do Senado, a CPI sobre o caso hoje parece mais um palanque armado para Romário brilhar, mas o efeito prático inspira desconfiança.
A tendência no governo é pelo embarque, mesmo sob riscos. Até porque a investigação internacional já está em marcha avançada, nem que seja meramente para espezinhar Putin, como sugerem os teóricos da conspiração, mas com risco zero da interferência de uma "mala preta".