No comando da articulação política há 53 dias, o vice-presidente Michel Temer utiliza um linguajar de pugilista para celebrar as vitórias obtidas pelo governo nas votações das medidas provisórias do ajuste fiscal. “A aprovação na Câmara e no Senado tira aquela pressão que havia sobre o governo”, disse Temer em conversa com o blog. “Aquela história de dizer que o governo está nas cordas foi superada. O governo já saiu das cordas.”
Temer admitiu pela primeira vez que, não fosse pela ajuda de congressistas da oposição, o governo teria beijado a lona na votação de uma das principais propostas do seu ajuste fiscal —aquela que endurece as regras para a concessão de seguro-desemprego, abono salarial e seguro para os pescadores artesanais.
“Nós ganhamos por 22 votos na Câmara. No Senado, a diferença foi de sete votos”, recordou o vice-presidente. “Se não tivéssemos conquistado votos da oposição, nós perderíamos a medida provisória. Sem a ajuda da oposição não teria passado. Isso foi fruto de muitas reuniões, muita conversa e muito convencimento.”
Temer também reconheceu que a reativação do balcão de cargos ajudou a reagrupar a infantaria governista. O repórter quis saber se as nomeações chegaram à casa da centena. E o vice-presidente: “Uma centena? Olha, se você juntar os cargos nacionais e todos os cargos federais localizados nos Estados é possível que dê algo por aí.”
Perguntou-se a Temer se não haveria outra forma de seduzir os aliados. “Temos que partir de um conceito”, ele respondeu. “Quem ajuda o governo tem que ajudar a governar e, portanto, participar do governo. O que é participar? Não é apenas a coalizão, com a participação nos ministérios. Envolve também as demais funções estatais. O governo federal, ainda que fosse de um único partido, não teria condições de prover todos os cargos do país. Então, ele tem que receber indicações daqueles que o ajudaram e vão governar junto.”
E quanto ao risco de explosão de novos escândalos? “Evidentemente, se houver desajustamentos, esses desajustamentos, quando detectados, deverão ser corrigidos. E a correção é botar o sujeito para fora. Agora, se você se elege com 11 partidos, é claro que esses partidos têm que participar do governo.” Vão abaixo as declarações de Michel Temer:
— Muita saliva e comida: “O balanço que faço desses primeiros 50 e poucos dias é muito é positivo. Conseguimos articular a aprovação das medidas na Câmara e no Senado. Foram matérias difíceis. Mas tive a colaboração muito dos líderes na Câmara e no Senado. Fiz uma coisa que conheço bem. Tive muito contato com os deputados e senadores. Foram muitos cafés da manhã, almoços e jantares no Palácio do Jaburu. Essa aproximação ajudou bastante. A aprovação na Câmara e no Senado tira aquela pressão sobre o governo. Aquela história de dizer que o governo está nas cordas foi superada. O governo já saiu das cordas.”
— A ajuda da oposição: “Com toda a franqueza, isso se deveu à minha atuação. Como fui presidente da Câmara três vezes, tenho bom contato com a oposição. Eu sempre sustentei que oposição também ajuda a governar. A oposição ajuda o governo até quando critica. E eu, em muitos momentos, disse aos companheiros da oposição: olha, essa não é uma questão de governo. Se fosse de governo, eu não me atreveria a pedir. Mas essa é uma questão de Estado. Hoje somos nós, amanhã poderão ser vocês. O Estado brasileiro precisa estar bem. Na primeira medida provisória, eu trouxe na Câmara oito votos do DEM, três votos do PV, alguns votos do PSB. Nós ganhamos por 22 votos na Câmara. No Senado, a diferença foi de sete votos. Se não tivéssemos conquistado votos da oposição, nós perderíamos a medida provisória. Sem a ajuda da oposição não teria passado. Isso foi fruto de muitas reuniões, muita conversa e muito convencimento.”
— Toma-lá-dá-cá: “Temos que partir de um conceito: quem ajuda o governo tem que ajudar a governar e, portanto, participar do governo. O que é participar? Não é apenas a coalizão, com a participação nos ministérios. Envolve também as demais funções estatais. O governo federal, ainda que fosse de um único partido, não teria condições de prover todos os cargos do país. Então, ele tem que receber indicações daqueles que o ajudaram e vão governar junto.”
— Mais de cem cargos: “Uma centena? Olha, se você juntar os cargos nacionais e todos os cargos federais localizados nos Estados é possível que dê algo por aí.” Assim que eu assumi a coordenação, nós pedimos aos deputados e senadores de cada Estado que examinassem quais são os cargos federais lá existentes e fizessem um ajustamento entre eles, porque isso facilita a nomeação. Evidentemente, demora um pouco para ser efetivada, porque cada nome desses passa por uma avaliação.”
— Risco de novos escândalos: “Evidentemente, se houver desajustamentos, esses desajustamentos, quando detectados, deverão ser corrigidos. E a correção é botar o sujeito para fora. Agora, se você se elege com 11 partidos, é claro que esses partidos têm que participar do governo.”
— Eliseu Padilha: “O ministro Padilha [Aviação Civil] me ajudou enormemente. Nós entramos no olho do furacão, não foram tempos de bonança. Esse auxílio do Padilha foi fundamental para mim. Eu ajustei isso com ele. E ele colaborou enormemente, até porque ele é muito organizado nessa operação de verificar quem participa e não participa do governo. Essa operação não faz muito o meu temperamento. Mas no macro, fiz tudo o que deveria fazer. E o auxílio do Padilha foi fundamental. Ele continuará dando sua contribuição. Mas talvez num ritmo menor.
— A animosidade de Renan Calheiros e Eduardo Cunha: “Devo dizer que, embora eles tivessem opiniões próprias, não senti que tivessem criado problemas comigo. Apesar das eventuais dificuldades e de manifestações contrárias que ocorreram, conseguimos articular de uma tal maneira que vencemos essa eventual indisposição em relação aos projetos. Foi um fato adicional. Confesso que, se todos os agentes do Legislativo estivessem a favor, seria muito mais fácil. Mas nós conseguimos superar sem criar nenhum problema —nem com o presidente da Câmara nem com o presidente do Senado.”
— Futuro como coordenador político: “Colocando a modéstia de lado, como deu muito certo, tenho a impressão de que a articulação política macro ficará sempre comigo. Veja que não assumi o ministério. O que disse à presidente foi o seguinte: se a senhora quiser, transfira as competências da Secretaria de Relações Institucionais para a vice-presidência. Foi o que ela fez. Então, essas competências hoje estão com a vice-presidência. Penso que vou continuar na articulação, até mesmo porque o compartilhamento dos cargos caminha em ritmo acelerado, de maneira que todos os aliados possam participar do governo. Superada esta fase mais aguda que é do ajuste fiscal e esta outra fase, também aguda, que é a da participaçao de todos no governo, tenho a impressão de que a articulaçao política vai ficar mais suave. Não vejo razão para nenhum afastamento. Ao contrário, creio que podemos continuar colaborando. Salvo se a presidente decidir de outra maneira.
— O projeto que reduz a desoneração da folha para 56 setores: “Estamos negociando muito bem essa questão da desoneração, que será votada na Câmara no dia 10 de junho. Está bem encaminhado. Tenho conversado permanentemente com o Leonardo Piscciani [líder do PMDB na Câmara], que é o relator da proposta. Falo também com o Eduardo Cunha. Tenho colocado o ministro Joaquim Levy [Fazenda] em contato direto com o relator. E nós vamos ajustando os ponteiros. Vamos vencendo um obstáculo, depois outro obstáculo… Tenho a impressão de que chegaremos no dia 10 com um acordo geral, de maneira que possamos aprovar. Depois, farei o mesmo no Senado.
— A fase pós-ajuste: Aprovada a proposta que trata da desoneração, creio que fechamos esse ciclo do ajuste fiscal. Com isso, o governo lançará iniciativas que recoloquem o país na trilha do desenvolvimento —o plano safra de um lado. O plano de concessões da infraestrutura de outro lado. O governo ficará bem posicionado. As coisas se harmonizarão. E ajuda inclusive nas relações com o Congresso.