sábado, 30 de maio de 2015

"Jogo sujo", editorial da Folha de São Paulo

Apesar dos sucessivos escândalos na Fifa e das recentes prisões de dirigentes da federação internacional, o suíço Joseph Blatter obteve nesta sexta-feira (29) o quinto mandato consecutivo à frente da entidade máxima do futebol, posto que ocupa desde 1998.

Sua permanência no cargo em nada contribuirá para salvar a imagem da Fifa ou levar adiante reformas capazes de ampliar a transparência e melhorar os mecanismos de controle na organização do esporte mais popular do mundo.

Representa, ao contrário, a vitória de um modus operandi obscuro e, segundo o Departamento de Justiça dos EUA, bastante corrupto.

Na eleição realizada em Zurique, Blatter, 79, recebeu o apoio de 133 das 209 federações nacionais filiadas à Fifa. Seu único adversário, o príncipe jordaniano Ali bin Al-Hussein, 39, conquistou 73 votos; houve ainda 3 sufrágios nulos.

Como o escrutínio é secreto, não se sabe com segurança como as federações se comportaram.

Hussein teve o aval declarado dos europeus e dos EUA, país de onde saiu o pedido de prisão de sete cartolas da Fifa que participavam do congresso da entidade, entre os quais o ex-presidente da CBF José Maria Marin.

Blatter, por sua vez, teve a seu lado um expressivo número de países africanos e asiáticos, cujas federações tradicionalmente recebem generosa ajuda financeira da Fifa.

O suíço certamente angariou também o endosso da maioria dos países da Conmebol. Péssima companhia: a famigerada confederação sul-americana teve quatro dirigentes acusados de lavagem de dinheiro e extorsão em negociatas como a venda de direitos de transmissão da Copa América.

Outros foram apontados como cúmplices, como Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, respectivamente antecessor e sucessor de Marin à frente do futebol brasileiro.

A reeleição contou, ainda, com a maioria dos países da Concacaf, a confederação das Américas do Norte e Central, cujos dirigentes são acusados de receber US$ 10 milhões da África do Sul para apoiar a candidatura à Copa de 2010. O presidente da entidade, Jeffrey Webb, está entre os presos.

A Fifa se gaba de reunir mais países do que a ONU, mas a sua cúpula se restringe a uma confraria seletíssima. Parece difícil, quase impossível, que saia dessas cartolas alguma mudança digna de nota na cúpula do futebol mundial.

A entidade somente evoluirá com a decidida pressão externa de autoridades policiais e de patrocinadores –caso estes, naturalmente, discordem da corrupção.