quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"O peso do agronegócio", editorial do Estadão

Apesar da queda dos preços internacionais de alguns de seus principais itens de exportação, o aumento do volume das exportações, propiciado pela conquista de espaços no mercado externo, tem assegurado ao agronegócio brasileiro um papel decisivo para evitar a deterioração ainda mais rápida da balança comercial e a desaceleração mais forte da economia. Em agosto, as exportações do agronegócio somaram US$ 8,89 bilhões e as importações, US$ 1,41 bilhão. O resultado é um saldo positivo de US$ 7,48 bilhões só no mês passado.
Em valores, o desempenho do agronegócio neste ano vem sendo inferior ao do ano passado, por causa da queda da cotação de produtos de grande peso em sua pauta de exportações, como soja, carne de frango e produtos do complexo sucroalcooleiro (em média, os preços desses produtos no mercado internacional estão 15,3% menores do que os do ano passado, de acordo com estimativas do governo). As exportações de janeiro a agosto deste ano, que alcançaram US$ 67,61 bilhões, foram 2,1% menores do que as dos primeiros oito meses de 2014.
O aumento do volume exportado tem reduzido boa parte do efeito negativo da redução dos preços, de modo que os resultados do comércio exterior do agronegócio continuam muito altos, compensando largamente o mau desempenho das exportações de outros setores, sobretudo o industrial.
Nos oito primeiros meses de 2014, a balança comercial do País - resultado de tudo o que foi exportado e importado no período - acumulou um saldo positivo de apenas US$ 249 milhões. Já o superávit do agronegócio alcançou, no mesmo período, US$ 56,36 bilhões, valor 2,4% menor do que o registrado nos primeiros oito meses de 2014, mas ainda muito alto. Pela comparação desses números pode-se imaginar como estaria o comércio exterior brasileiro caso o agronegócio não continuasse a apresentar um desempenho tão positivo como tem apresentado.
A China, há muito o principal destino dos produtos exportados pelo agronegócio brasileiro, já absorve quase um quarto (23,6% do acumulado de setembro do ano passado até agosto passado) do que o setor vende para o exterior. Como principais clientes do agronegócio brasileiro vêm, pela ordem, os Estados Unidos (7% do total exportado), Países Baixos (6,9%), Rússia (3,3%), Venezuela (também 3,3%) e Alemanha (3,2%).
Para alcançar esses resultados, a despeito da queda dos preços internacionais e, sobretudo, das persistentes dificuldades de transportes e logística decorrentes dos atrasos dos programas de infraestrutura do governo federal, o setor agrícola brasileiro precisou atingir um alto nível de eficiência. A disposição do empresariado rural de assumir riscos, investindo mesmo em períodos de incertezas, resultou numa agricultura altamente produtiva e, por isso, competitiva. A crise que afeta duramente o setor industrial continua distante do campo.
Estimativas mais recentes confirmam o vigor da atividade rural no País. Em seu 12.º e último levantamento da produção de grãos da safra atual, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou o total em 195,46 milhões de toneladas, total 3,6% maior do que a safra anterior, de 188,65 milhões de toneladas. Ou seja, a agricultura continua a bater recordes de produção.
Na avaliação do governo, as condições climáticas favoráveis, o emprego de tecnologia e a disponibilidade de crédito para custeio e investimento estão entre os principais fatores que estimularam o aumento da produção. Nesta safra, a área plantada, de 56,93 milhões de hectares, foi 6,3% maior do que a da safra anterior, um aumento maior do que o da produção esperada. Assim, a produtividade deverá ser menor.
Foi notável, nesta safra, o aumento da área destinada ao cultivo do trigo (2,21 milhões de hectares, 21,4% maior do que a da safra anterior). Isso deverá permitir a produção recorde de 7,67 milhões de toneladas. Como, porém, a demanda deve alcançar 12,2 milhões de toneladas, o Brasil continuará a importar o produto.