Cleide Carvalho - O Globo
Cleide Carvalho - O Globo
Presa na operação Lava-Jato com 200 mil euros na calcinha, ela é famosa por usar nomes de atrizes como apelido
A doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama cansou de ver sua casa de câmbio em Santo André, no ABC paulista, devassada por sucessivas operações da Polícia Federal. Hoje, seus clientes a encontram num restaurante chinês. Nele, comer sukyiaki é algo bem difícil. O portão, quase sempre fechado, só abre a conhecidos.
A atuação de Nelma, de 47 anos, no mercado de câmbio, por meio da Havaí Câmbio e Turismo, foi revelada na CPI dos Bingos, em 2006, pelo doleiro Antonio Claramunt, o Toninho Barcelona, que a apontou como responsável por operações em dólar para o PT na época em que Celso Daniel, assassinado em 2002, era prefeito de Santo André. Ouvida, ela negou qualquer tipo de operação irregular.
Oficialmente, a Havaí deixou de existir, mas Nelma prosperou. Presa na Operação Lava-Jato com 200 mil euros na calcinha, Nelma integra o grupo dos quatro maiores doleiros do país. Entre maio e novembro de 2013, ela enviou para o exterior US$ 5,2 milhões por meio de 91 importações fictícias, usando apenas uma de suas várias empresas de fachada, a Da Vinci Confecções.
Ré na Justiça Federal do Paraná por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, ela ainda deve responder por mais crimes: faltam ser rastreados R$ 103 milhões que passaram por oito empresas de fachada e seis offshores em nove países.
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Bem-humorada, Nelma atribui a si o título de “dama do mercado de câmbio”, e se comunica com outros doleiros usando como pseudônimo o nome de atrizes famosas, como Cameron Diaz, Angelina Jolie ou Greta Garbo.
A conversa constante entre o grupo se explica: eles operam por um sistema conhecido como “hawala”, que significa “eu confio em você”. Ou seja, tanto no Brasil como no exterior, quando um doleiro não tem em dinheiro vivo a quantia pedida pelo cliente, outro doleiro completa a operação.
Os clientes de Nelma entregam a ela sempre bastante dinheiro. Muitas vezes, acima de R$ 100 mil. Por mês, circulam pelo esquema atribuído a ela pela Polícia Federal pelo menos R$ 4 milhões. Para que os clientes não sejam identificados, o dinheiro entra e sai de várias contas em nome de empresas de fachada e laranjas.
Numa das conversas gravadas pela PF, ela ironiza e afirma que é uma pessoa desprovida de bens, pois a única coisa que tem em seu nome é um chip da TIM. Todos os bens estão em nome de terceiros. Entre eles, um hotel em São Paulo. Os advogados de Nelma dizem que ela não tem qualquer negócio em Santo André e que a Havaí, fechada há oito anos, era totalmente legalizada.