terça-feira, 1 de abril de 2014

Alemanha diz que planos de Putin lembram os de Hitler

Christian Reiermann
 

 


Ele não é o primeiro a fazê-lo, mas é alguém de peso suficiente para piorar as tensões. Na segunda-feira (31), o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, disse que vê paralelos entre a anexação da Crimeia por Putin e a tomada da região dos montes Sudetos por Adolf Hitler. Como o sr. Euro da Alemanha, Wolfgang Schäuble é um dos políticos mais conhecidos do país no exterior. Quando o ministro das Finanças fala, as pessoas geralmente escutam.

Mas, na manhã de segunda-feira (31), as declarações públicas em seu ministério causaram espanto. Schäuble fez declarações traçando paralelos entre as políticas de Adolf Hitler e as do presidente russo, Vladimir Putin.

Crise na Ucrânia                   

 

31.mar.2014 - Pedestres passam por acampamento da força de autodefesa ucraniana Maidan, na praça da Independência, em Kiev Shamil Zhumatov/Reuters

Schäuble disse que as ações da Rússia na Ucrânia fizeram com que ele se lembrasse do expansionismo da Alemanha nazista. "Hitler já adotou esses métodos na região dos montes Sudetos", disse Schäuble em um evento público no Ministério das Finanças, em Berlim, na manhã de segunda-feira. "Isso é algo que todos conhecemos pela história."

Os comentários de Schäuble foram direcionados à justificativa dada pelos russos para a anexação da Crimeia. As autoridades russas alegam que os habitantes de etnia russa da península eram ameaçados pela Ucrânia. Os nazistas apresentaram um argumento semelhante em 1938, de que "os habitantes de etnia alemã" nas regiões periféricas do que era, na época, a Tchecoslováquia precisavam de proteção.

Diante das tensões entre a Rússia e o Ocidente e a proeminência política do ministro das Finanças na Europa, os comentários de Schäuble podem intensificar ainda mais a discórdia.

O ministro fez os comentários enquanto falava para 50 crianças de Berlim que participavam de um projeto sobre a União Europeia organizado pelo governo. Schäuble respondeu às perguntas dos estudantes sobre a unidade europeia e sobre a crise do euro. Ele fez seus comentários depois que um aluno perguntou se a crise na Ucrânia tinha o potencial de intensificar os problemas na zona do euro. Schäuble disse que o mais importante era impedir que a Ucrânia se tornasse insolvente.

Ele disse que se o governo em Kiev não conseguir mais pagar suas forças de segurança, "então, é claro, alguns bandos armados buscariam tomar o poder".

Isso, ele alertou, poderia servir como pretexto para uma intervenção russa. "Os russos então diriam que não podem aceitar aquilo, que trata-se de uma ameaça à nossa população russa. Agora nós temos que protegê-la e esse é nosso motivo para a invasão."

Crise na Ucrânia gera bate-boca mundial                   

 

18.mar.2014 - ?Nossos parceiros do Ocidente cruzaram uma linha, uma linha vemelha. Eles foram irresponsáveis", afirmou Vladimir Putin, presidente russo, em discurso muito aplaudido, no qual não poupou críticas ao Ocidente pelo que chamou de "interferência" e pelas sanções adotadas contra a Rússia em repúdio ao referendo Arte UOL

Europeus orientais 'bastante assustados'

Schäuble também explicou aos alunos como a ocupação russa da Crimeia ocorreu. "Em algum momento ocorreu uma escalada da situação e então Putin disse: 'Na verdade, eu sempre quis a Crimeia mesmo'". Ele então disse que Putin justificou a ação porque a frota russa no Mar Negro está localizada na península.

Ele disse que Putin deve ter dito a si mesmo: "E a oportunidade atual é a certa". Schäuble também alegou que o presidente russo posicionou tropas próximas da fronteira ucraniana "para mostrar que posso garantir a ordem se necessário".

O ministro também disse aos alunos que seus pares dos países membros da UE que faziam parte do Bloco Oriental também se preocupam com as ações russas –particularmente Hungria, Polônia e os países bálticos. "Eles estão bastante assustados", ele disse. Segundo ele, os ministros das Finanças desses países lhe disseram pessoalmente que planejam expandir seus gastos militares. Mas Schäuble disse que não há planos para aumentar o orçamento de defesa da Alemanha. "Isso seria inútil", ele afirmou.
Tradutor: George El Khouri Andolfato