domingo, 18 de junho de 2017

França deve eleger Legislativo mais feminino, jovem e civil

Sebastien Bozon/AFP
Premiê de Macron, Édouard Philippe tira selfie ao lado de menino na campanha do República em Frente!
Premiê de Macron, Édouard Philippe tira selfie ao lado de menino na campanha do República em Frente!


Diogo Bercito - Folha de São Paulo

A Assembleia Nacional que deverá ser eleita no segundo turno das eleições legislativas francesas, realizado neste domingo (18), não se parecerá em nada com a anterior.

Segundo as previsões de voto, a Casa, que corresponde à Câmara dos Deputados brasileira, será bastante mais feminina, jovem e civil.

Com isso, o presidente francês, Emmanuel Macron, terá dado um importante passo rumo a uma de suas promessas de campanha: a renovação da política, em um país desgostoso com seus atuais representantes.

Dos candidatos apresentados por seu movimento, o República em Frente!, metade era de mulheres e metade de pessoas que nunca ocuparam antes cargo público.

A Assembleia Nacional atual, eleita em 2012, tem 155 mulheres, que correspondem a 26% do total dos 577 deputados –o que já era em si um recorde. Neste ano, 248 mulheres lideram o segundo turno, 197 delas representando o movimento de Macron.

Somando-se a isso, dos 515 candidatos da República em Frente! classificados ao segundo turno, mais da metade jamais foi eleita a cargos públicos, segundo levantamento do jornal "Le Monde".

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS NA FRANÇA Segundo turno é hoje; partido de Macron deverá ter ampla maioria

NOVO PERFIL

Catherine Fabre, 38, representa essa renovação feminina e vinda da sociedade civil. Ela lidera a disputa no centro de Bordeaux, no oeste francês, uma circunscrição conhecida por eleger pesos pesados da política nacional.

Bordeaux é, por exemplo, a fortaleza do conservador Alain Juppé, que foi premiê e é hoje prefeito da cidade de 240 mil habitantes –a sua área metropolitana, com 1,1 milhão de moradores, é a quinta maior do país.

"Temos muitos problemas na França, mas os partidos tradicionais disputam entre si sem levar em conta o interesse público", diz Fabre à Folha. Professora, ela nunca se envolvera com a política.

"Quando conheci o República em Frente!, pela primeira vez na vida concordei com uma ideologia", conta.

Ela entrou para o movimento querendo ajudar. Aos poucos, formou uma das equipes de militantes mais importantes da agremiação. "Éramos poucas pessoas, e foi emocionante", afirma.

Caso eleita, Fabre pretende ocupar seu assento por um ou dois mandatos no máximo. Ela diz identificar um cansaço da população em relação aos políticos que fazem carreira, longamente sentados na Assembleia.

"Um dos problemas da política francesa é que a prioridade dos deputados é se reeleger, e não representar o cidadão", diz. Descontentes, os eleitores têm migrado para partidos no extremo político, como a ultranacionalista de direita Frente Nacional. Sua líder, Marine Le Pen, chegou ao segundo turno das eleições presidenciais.

Não será, no entanto, uma experiência fácil para candidatos como Fabre, nunca antes eleitos à Assembleia.

"Há armadilhas em todos os lugares e pessoas ruins que não querem que tenhamos sucesso", diz. "Vai ser difícil lidar com o revanchismo dos outros partidos."

As siglas tradicionais devem ser derrotadas no domingo. As projeções indicam que o República em Frente! terá de 415 a 455 cadeiras, enquanto os Republicanos terão de 70 a 110, e os socialistas terão de 20 a 30.

Georges Gobet/AFP
Catherine Fabre, 38, candidata do partido do presidente, que lidera a disputa na região de Bordeaux
Catherine Fabre, 38, candidata do partido do presidente, que lidera a disputa na região de Bordeaux


RISCOS

A inexperiência dos candidatos de Macron é sua vantagem neste pleito, mas pode também ser sua desvantagem enquanto governar, diz Gilles Ivaldi, do Centro Nacional de Pesquisa Científica.

"Os eleitores de fato querem renovar a política, mas as funções da Assembleia são bastante complexas", afirma. "Os deputados precisam votar em legislações."

Será difícil, também, manejar uma maioria tão grande e tão heterogênea.

"Especialmente nos momentos difíceis do governo, Macron vai precisar de deputados experientes, que trabalhem bem sob pressão", afirma Ivaldi.

Não há uma solução fácil para o dilema, diz. Mas o governo deve, como primeiro gesto, garantir que políticos experientes sejam nomeados aos cargos-chave, como o de presidente da Assembleia.

Com isso, tentará mitigar o risco que seus próprios militantes identificam. Se frustrar os eleitores, Macron pode abrir espaço para movimentos populistas nas eleições de 2022, como a Frente Nacional –que, entre outras propostas, defende retirar a França da União Europeia.

"Temos consciência da nossa responsabilidade", afirma a candidata Fabre. "Somos obrigados a ter sucesso. Caso contrário, toda a esperança vai virar desespero."