domingo, 18 de junho de 2017

Com 97% das urnas apuradas, Macron já assegurou mais de 360 assentos


O presidente francês, Emmanuel Macron, acena em cerimônia na França - POOL / REUTERS


Com O Globo e agências internacionais



PARIS — O presidente francês, Emmanuel Macron, conseguiu obter a maioria absoluta nas eleições parlamentares deste domingo, eliminando os partidos tradicionais e assegurando um poderoso mandato de reformas pró-mercado. O resultado, baseado em apurações parciais e pesquisas de projeções, redesenha o Parlamento da França, envergonhando os republicanos e socialistas, que se alternaram no poder por décadas até a eleição de Macron em maio. Com 97% das urnas apuradas, o presidente assegurou mais de 360 assentos, ultrapassando os 289 necessários para ter maioria na Assembleia Nacional, que tem 577 deputados.

Os resultados oficiais, com 97% da apuração, mostram que o movimento de Macron conseguiu 361 lugares no Parlamento. Três pesquisas projetaram que o República em Marcha e seus aliados venceriam de 355 a 365 assentos, menos do que previsto antes. Os resultados parciais mostram que Os Republicanos e seus aliados formariam o maior bloco opositor com 126 lugares, enquanto o Partido Socialista, que esteve à frente da França nos últimos cinco anos, e seus parceiros conseguiriam 46 assentos, o menor número pós-guerra.

O movimento de esquerda radical França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon obteve 26 lugares, junto com o Partido Comunista, podendo assim criar um grupo parlamentar. A líder da extrema-direita Marine Le Pen, que foi ao segundo turno das eleições presidenciais com Macron, conseguiu se eleger pela primeira vez como deputada pelo seu reduto Hénin-Beaumont, no Norte da França. Porém, o seu partido Frente Nacional — que depositou tantas esperanças nas legislativas — tem somente oito assentos, uma vitória amarga para quem aspirava liderar a oposição. Louis Aliot, vice-presidente da Frente Nacional e marido de Le Pen, também foi eleito deputado.

"Essa é uma oportunidade para a França. Um ano atrás, ninguém imaginava uma renovação política assim", disse o primeiro-ministro Edouard Philippe em um comunicado.

A abstenção foi projetada em 56,6%. O número mostra que Macron vai ter que ir cuidadosamente com suas reformas, em um país com um histórico de protestos que forçaram muitos governos a diluir novas legislações. O porta-voz do governo, Christophe Castaner, afirmou que o número assinalou que os eleitos não quiseram entregar a Macron um "cheque em branco".

Mesmo assim, a conquista da maioria absoluta dá ao presidente, um centrista pró-União Europeia, uma plataforma forte para realizar suas promessas de campanha. A vitória de Macron, o líder mais novo da França desde Napoleão, marca a mudança da velha classe política. Nunca tendo ocupado cargos eleitos, o presidente francês conseguiu capitalizar os ressentimentos crescentes contra a elite política e a frustração pública na falência da criação de empregos e estimular um crescimento mais forte.

Seu partido de apenas um ano preencheu o espaço político criado pelo desarranjo dentro do Partido Socialista e Os Republicanos, com uma sequência de eventos que um ano atrás parecia improvável.

"Esta noite, o colapso do Partido Socialista é incontestável. O presidente da república tem todos os poderes", Jean-Christophe Cambadelis disse após anunciar a renúncia como chefe do Partido Socialista.

Cambadelis também afirmou que o partido tem que se reconstruir de cima para baixo. O socialista foi eliminado do Parlamento no primeiro turno da votação na semana passada. Já François Baroin, que liderou a campanha republicana, assegurou que os conservadores enfatizariam suas diferenças com Macron, especialmente na questão das taxas.

A escalada do República em Marcha faria Macron conseguir a maioria absoluta mesmo sem o apoio do seu parceiro François Bayrou e o Modem, dando a ele o caminho aberto para as reformas e espaço para uma remodelação do governo, se quiser. O Modem atualmente tem dois ministro no gabinete do presidente.

Os rivais de Macron foram ao segundo turno tentando minimizar a escala da vitória no iniciante. A oposição pediu aos eleitores a não concentrarem nas mãos de um só partido tanto poder e alertaram que os deputados do República em Marcha apenas concordariam com todas as propostas do governo.

A metamorfose na Assembleia Nacional será evidente: a metade dos novos deputados nunca ocuparam cargos eleitos, muitos deles são jovens e mulheres, e com uma maior diversidade étnica.

— Foi tirado tudo o que representava o sistema anterior. Estas eleições são a maior renovação do elenco político desde 1958 ou talvez 1945 — opinou o professor de direito constitucional Didier Maus.

A nova Assembleia nacional começará votando em três projetos de lei: um sobre a moralização da vida pública — após uma campanha marcada por diferentes escândalos político e financeiros —, outro para reforçar as medidas de segurança e um terceiro sobre a reforma das leis trabalhistas.