segunda-feira, 26 de junho de 2017

"A vitória da melancia quadrada", por Ruy Castro

27.jun.2011Associated Press
Consumidores observam melancia quadrada no Japão, onde um agricultor conseguiu cultivar fruta em 2007
Consumidores observam melancia quadrada no Japão, onde agricultor conseguiu cultivar fruta em 2007


Folha de São Paulo

Há quase dez anos, em agosto de 2007, falei neste espaço de um agricultor japonês, da ilha de Shikoku, que não se conformava com a dificuldade para guardar uma melancia na geladeira. O formato da fruta não ajudava –grande e arredondada, tomava muito espaço na prateleira e deixava cantos vagos e ociosos, difíceis de ser ocupados. Além disso, era instável, não parava quieta, era complicado cortá-la. Nosso herói perguntou-se se esse erro de design da natureza não seria passível de correção.

Como agricultor de mão cheia, calculou que, se começasse a cultivar melancias em caixas de vidro, elas acabariam adotando o formato da caixa.

Talvez precisasse de muitas gerações de melancias para atingir o efeito, mas os japoneses não são como nós, sabem esperar –e, se ele não conseguisse, seus descendentes continuariam a tarefa. O importante era produzir uma melancia quadrada, não importava quantos sóis nascessem e morressem.

Levou 20 anos e gerações de melancias equivalentes a várias dinastias de seu país, mas, em 2007, o lavrador conseguiu. A melancia quadrada era uma realidade. Li aquilo e empolguei-me, tanto que escrevi uma coluna a respeito -que, em 2015, incluí num livro de crônicas para jovens, publicado pela editora Moderna e ao qual dei o título, justamente, de "A Melancia Quadrada".

Bem, agora, há dias, vi pela televisão que as melancias quadradas são um sucesso nos mercados asiáticos e que o Japão fatura milhões com sua produção e exportação. É bom saber que uma empreitada deu certo.

Pois, para minha surpresa, descobri que o Ceará também se tornou produtor de melancias quadradas –e que os cearenses estão competindo em vendas com o Japão! Interpreto isto como um alento. Quem sabe, no futuro, inspirando-nos em bons exemplos, não seremos também um país?