Não se passa um dia sem a notícia do fechamento de um estabelecimento tradicional: um sebo particularmente rico de livros em francês, um café que vivia cheio de gente, um hotel que já hospedou uma seleção campeã do mundo (a do Uruguai, em 1950), uma banca de jornais que servia cafezinho aos clientes e até uma poderosa loja de artigos esportivos no quarteirão mais caro de Ipanema. Por trás de cada história, a fuga da clientela e do dinheiro e a quebradeira a que levaram o país.
Ao mesmo tempo, não se sabe do fechamento de farmácias, bancos e templos evangélicos, nem de lojas de colchões, de móveis de carregação ou de artigos de casa e vídeo. Por sinal, são elas que ocupam os espaços onde até há pouco se abrigava aquele comércio tão simpático e necessário. Não que essas novas lojas, tão arrogantes, não possam existir. Mas quem precisa de quatro farmácias da mesma rede num único quarteirão? Em outros países, as prefeituras controlam esse abuso.
Por isso, quando se sabe que uma livraria no Rio está completando 19 anos não é caso apenas de soprar velinhas, mas de soltar foguetes. É o que acontece hoje, dia do aniversário da Folha Seca, na rua do Ouvidor, coincidindo com o de são Sebastião, padroeiro da cidade. Quando Rodrigo Ferrari a abriu, em 1998, sua proposta era audaciosa: uma livraria "carioca", especializada em livros sobre o Rio, música popular e futebol. Desde quando um país em eterna crise comporta tanta especialização?
Mas Rodrigo se impôs e sua presença injetou felicidade naquele trecho da Ouvidor, entre 1º de Março e Travessa do Comércio. Surgiram botequins, restaurantes e rodas de samba e de choro, tornando-o um dos quarteirões mais deliciosos do velho Centro.
Não se entende mais o Rio sem a Folha Seca. Vida longa a essa livraria, que faz tão bem à cidade.