terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Servidores da era PT se mantêm em cargos estratégicos do governo Temer

ESTRANHOS NO NINHO

Remanescentes do governo Dilma com cargos no mandato Temer



Cátia Seabra - Folha de São Paulo


Mesmo com toda a tensão que marcou o processo de impeachment, petistas e pessoas indicadas pelo PT persistem em cargos estratégicos do governo federal, oito meses após o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff.

Amiga do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, a advogada Regina Maria Filomena de Luca Miki esteve por quase seis anos à frente da Secretaria de Segurança do Ministério da Justiça.

Foi exonerada em junho de 2016, na interinidade de Temer. Mas assumiu a Gerência Executiva de Inteligência da Petrobras em dezembro, um mês depois de solicitar sua desfiliação do PT.

Antes de chegar ao governo federal, ela foi secretária da Prefeitura de Diadema, na gestão de José De Filippi —tesoureiro de duas campanhas presidenciais do PT.

Ligado ao PT de São Paulo, Rodrigo Assumpção ocupa há mais de oito anos a presidência da Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social).

Um substituto chegou a ser anunciado no início do governo Temer. Mas Assumpção continuou no cargo.

Ele chegou ao Ministério do Planejamento no primeiro ano da administração Lula, como secretário-adjunto de Logística e Tecnologia da Informação. Procurado pela Folha, Assumpção não se manifestou.

A atual presidente do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) —vinculado ao Ministério da Fazenda—, Glória Guimarães, foi levada ao governo Lula por indicação do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo.

A convite de Bernardo, ela foi secretaria de Logística e Tecnologia da Informação no ministério. Com a transferência de Bernardo para o Ministério das Comunicações, assumiu a vice-presidência de Operações dos Correios.

Ainda no governo Dilma, comandou a superintendência do Serpro. Em maio de 2016, foi nomeada presidente da estatal. Guimarães rechaça a ideia de apadrinhamento político.

"Estou há 36 anos no serviço público, sempre ocupei funções técnicas e de gestão durante minha vida pública. Nunca trabalhei em fundos de pensão. Não tenho padrinhos políticos", afirma.

No passado apoiado pelos ex-ministros Jaques Wagner e Antonio Palocci contra a cobiça do PMDB, o vice-presidente de Tecnologia do Banco do Brasil, Geraldo Afonso Dezena da Silva, também rejeita o rótulo de afilhado político.

"Sou funcionário de carreira do Banco do Brasil há 40 anos, tempo em que exerci diversos cargos, galgando um a um sem nunca contar com indicações políticas."

ALOPRADO

A exemplo de Dataprev e Serpro, a estrutura do BB Tecnologia e Serviços —a antiga Cobra, empresa controlada pelo Banco do Brasil— conserva parte da estrutura herdada da gestão petista.

Entre seus dirigentes está Expedito Veloso. Um dos coordenadores da campanha de reeleição de Lula em 2006, Veloso ocupa, segundo o site oficial, a diretoria de Operações da instituição.

Durante a campanha daquele ano, seu nome veio à tona em meio ao "escândalo dos aloprados", quando colaboradores da candidatura foram flagrados no momento da compra de um dossiê sobre o tucano José Serra, então candidato do PSDB ao governo de São Paulo.

Veloso foi afastado do PT e investigado pelo banco. Inocentado pela Justiça em 2015, escreveu, em artigo, que pretende retomar o "curso normal" de sua carreira.

Outro sobrevivente é o ex-ministro do Turismo e ex-presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequeno Empresas), Luiz Barretto.

O petista ocupa postos-chave na Esplanada desde o governo Lula. Foi nomeado ministro do Turismo em 2008. Assumiu a presidência do Sebrae dois anos depois e foi substituído por Guilherme Afif em novembro de 2015.

Em fevereiro de 2016, Barretto foi nomeado presidente da Caixa Crescer, instituição de oferta de microcrédito que tem 49% de suas ações pertencentes à Caixa —o restante é de fundos privados.

O ex-ministro afirma que não houve indicação política para o cargo. "Não faço parte do governo Temer. Estou numa empresa privada", disse.

Barretto afirma que, embora consultada, a Caixa não tem a palavra final sobre a diretoria da instituição.