quinta-feira, 28 de março de 2019

Com o dobro do lance mínimo, Rumo fica com principal trecho da Ferrovia Norte-Sul

Com uma oferta de R$ 2,719 bilhões, a Rumo, operadora de logística do grupo Cosan, venceu a disputa pelo trecho central da Ferrovia Norte-Sul, ao oferecer ágio de 100,92% nesta quinta-feira, 28. O valor mínimo de outorga era de R$ 1,353 bilhão pela concessão por 30 anos.
O lance superou a proposta da única concorrente, VLI Multimodal, que ofereceu R$ 2,065 bilhões. Este é o primeiro leilão do setor ferroviário nos últimos 12 anos.
O trecho de 1.573 quilômetros da ferrovia ofertado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) liga Porto Nacional (TO) a Estrela d'Oeste (SP). O empreendimento já recebeu R$ 16 bilhões em investimentos públicos e o edital prevê o aporte de mais R$ 2,8 bilhões ao longo do período de concessão.

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Principal ponto de conflito da Ferrovia Norte-Sul está nas regras 
de direito de passagem, que permite o uso múltiplo da ferrovia 
por diferentes empresas Foto: Dida Sampaio/Estadao

O trecho envolvido no leilão foi construído pela Valec, estatal de ferrovia, e ainda não está concluído. Segundo especialistas, será preciso investir uma soma considerável para corrigir erros de execução e de projeto ao longo do trecho já construído da ferrovia.
A estimativa do governo é que, ao final da concessão, o trecho ferroviário tenha demanda equivalente a 22,73 milhões de toneladas.

Rumo Logística

Criada pelo Grupo Cosan em 2008, a Rumo é a maior operadora logística com base ferroviária independente do Brasil desde a fusão com a América Latina Logística (ALL), em 2015. Recentemente, a empresa divulgou estimativa de Capex (investimento) para o período entre 2019 e 2023 de R$ 13 bilhões a R$ 15 bilhões, quase o dobro do estimado pelo mercado. Nesta quinta-feira, a empresa ofereceu R$ 2,719 bilhões e venceu a disputa pelo trecho central da Ferrovia Norte-Sul que será concedida por 30 anos.
Com quatro concessões nas mãos, que somam aproximadamente 12 mil quilômetros de extensão em linhas férreas, a rede ferroviária da Rumo é integrada por 1 mil locomotivas, 25 mil vagões, além de centros de distribuição e instalações de armazenamento. Em 2017, a empresa decidiu abrir capital e desde então é listada no Novo Mercado da B3.
A renovação antecipada da concessão da Malha Paulista, que vence em 2028, é um tema sensível para a empresa, pois poderia destravar novos investimentos inclusive para a Malha Sul. São 2.039 quilômetros de extensão que juntamente com sua malha ferroviária do Centro-Oeste compõe um dos principais corredores de exportação do país, ligando a região ao Porto de Santos (SP). O processo está em fase final de análise no Tribunal de Contas da União (TCU).
As concessões das malhas Oeste (com 1.951 quilômetros) e Sul (com 7.208 quilômetros) vencem em 2026 e 2027, respectivamente, e sua renovação já foi solicitada.
O vencimento da Malha Norte, de menor extensão (735 quilômetros), será em 2079. O projeto de extensão dessa malha até Sorriso (MT), que ainda depende de aprovação regulatória da ANTT, é outro ponto importante de atração para investidores, segundo analistas.

Em recente evento, Marcos Lutz, presidente da Cosan, controladora da empresa, afirmou que seguirá com investimentos recorrentes na Malha Sul, enquanto aguarda a renovação do contrato de concessão. "Eu só posso fazer um investimento transformacional na Malha Sul depois de ter a renovação da malha acordada pelo governo, se não esse investimento não se paga", afirmou.

Fabiana Holtz e Bárbara Nascimento, O Estado de S.Paulo