sexta-feira, 29 de março de 2019

"Corrupção, privilégios, Previdência e futuro", por Ricardo Amorim

A Lava Jato completou cinco anos. Nunca tanta gente poderosa foi julgada, condenada e presa por corrupção. As condenações já totalizam mais de 2.242 anos de prisão. Cerca de R$ 2,5 bilhões já foram devolvidos à Petrobras e outros R$ 13 bilhões são alvo de recuperação por meio de acordos de leniência e de colaboração. Há ainda o pedido de pagamento de R$ 18,3 bilhões
em dez acusações de improbidade administrativa contra 63 pessoas, dezoito empresas e três partidos (PP, MDB e PSB).
A prisão do ex-presidente Michel Temer jogou por terra argumentos de que a Lava Jato seria um instrumento de perseguição a um grupo político em benefício de outro. Todavia, sua efetivação, às vésperas da votação da reforma da Previdência, reacendeu as críticas surgidas há dois anos — quando o vazamento das conversas entre Temer e Joesley Baptista inviabilizou a aprovação da proposta anterior da mesma reforma —, de que grupos do funcionalismo público interessados em manter privilégios intactos conturbariam o cenário político.
É um conflito difícil de ser equacionado. O combate à corrupção não pode ser refém do calendário político brasileiro. A Lava Jato precisa alavancar um profundo projeto de refundação do País, assim como a reforma deve combater os privilégios que inviabilizam nosso desenvolvimento, empobrecendo os brasileiros. Não conseguir executar esses dois trabalhos oferece ao governo o risco de perda do apoio popular em um momento crucial.
A decisão do STF de que processos de corrupção e lavagem de dinheiro ligados a caixa dois devam ser enviados à Justiça Eleitoral, a qual tem estrutura de investigação mais limitada, enfraquece a Lava Jato e o combate à corrupção. Assim há risco de anulação de condenações, como as de Lula e de Eduardo Cunha.
Mais do que nunca, tanto o combate à corrupção, por meio da Lava Jato, quanto o combate aos privilégios, via reforma da Previdência, precisam do apoio de todos os segmentos da sociedade. Só assim, seriam criadas as condições políticas para que avancem estas duas causas que podem transformar positivamente o País. O problema é que sempre haverá gente interessada em manter a corrupção e os privilégios.
O combate à corrupção não pode ser refém do calendário político. A Lava Jato e a reforma da Previdência precisam alavancar um projeto de refundação do País, mesmo contra a vontade de muita gente

IstoE