Liderança é uma qualidade difícil de definir, mas, como disse um juiz da Suprema Corte sobre a obscenidade, você a conhece quando a vê. Todos podem encontrar líderes inspiradores na história, mas administradores que procuram basear seu estilo em Nelson Mandela ou Elizabeth I estão tendo delírios de grandeza.
O maior erro é equiparar liderança com carisma. Billy McFarland tinha apenas 25 anos quando criou o festival Fyre, que prometia aos participantes uma experiência luxuosa numa ilha deserta nas Bahamas. Como foi mostrado no documentário da Netflix "Fyre – the Greatest Party That Never Happened", McFarland era um vendedor nato. Convenceu investidores de que era um empreendedor visionário e jovens talentosos a trabalhar para ele.
McFarland não tinha, porém, as qualidades necessárias para colocar suas ideias em prática. Os convidados do festival tinham só sanduíches de queijo para comer. Foram abrigados em barracas. A saga terminou com McFarland condenado a seis anos de prisão.
Seu exemplo poderia ser um dos casos para o livro de Tomas Chamorro-Premuzic, chamado "Why Do So Many Incompetent Men Become Leaders?" (Por que tantos incompetentes se tornam líderes?). Como psicólogo organizacional, ele sublinha que as pessoas costumam supor que indivíduos confiantes são competentes, quando na verdade não há relação entre as duas qualidades. Assim, esse tipo de pessoa é promovido. O excesso de confiança afeta os dois sexos, mas mais os homens: um estudo mostrou que eles superestimam suas habilidades em 30% e elas em 15%, em média.
Uma característica relacionada é o narcisismo. Pesquisas sugerem que a taxa de narcisismo clinico é 40% maior nos homens do que nas mulheres. Cerca de 5% dos diretores executivos (profissão dominada pelos homens) são considerados narcisistas, comparado com apenas 1% da população em geral.
Nada disso quer dizer que carisma não seja importante. Theresa May, primeira ministra britânica, foi nomeada para o cargo com base na sua competência e com a difícil tarefa de negociar o Brexit com a União Europeia. Mas sua falta de capacidade de persuasão foi importante em momentos cruciais e agora talvez tenha de renunciar. Ela não conseguiu unir o país, prestou pouca atenção às opiniões da oposição, do mundo empresarial e dos sindicatos.
Em discurso à nação em 20 de março, afastou ainda mais os parlamentares que precisava que votassem a favor do seu plano. “Um líder que afirma pedir opiniões, mas as ignora, não é líder”, diz Stefan Stern em seu novo livro How to be a Better Leader.
Engajamento. Competência é mais importante do que carisma. Os administradores precisam ter a presença necessária para convencer suas equipes a seguir seu plano de atividades, mas devem pensar em termos de coaching e não de inspiração. Pesquisas feitas pela Gallup concluíram que os empregados estão mais propensos a se envolver com seu trabalho se tiverem feedback frequente dos chefes.
A liderança de equipe exige empatia suficiente para compreender as preocupações das demais pessoas. Quando as coisas dão errado, como ocorre inevitavelmente, um bom líder também precisa de flexibilidade para ajustar a estratégia. Pessoas introvertidas e obstinadas como Theresa May não possuem essa flexibilidade, narcisistas como McFarland não têm a necessária empatia.
Finalmente, Stern diz que grande parte do sucesso da liderança provém da capacidade de dar exemplo. Os subordinados observam o comportamento recompensado e os padrões estabelecidos pelo superior./TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
The Economist, O Estado de S.Paulo