O desembargador federal Leandro Paulsen, do TRF4, que o âncora Lucas Mendes apresente como “o domador da jaula da Lava Jato”, foi o entrevistado, domingo passado, (24), no Manhattan Connection. Revista semanal do canal privado de TV, GloboNews, tocado, desde Nova York, por pesos pesados da informação e análise política, econômica e de variedades, instalados em São Paulo, Veneza ou em outras partes do mundo onde estiver a notícia em pauta.
Quem é seguidor do programa (meu caso), jamais despreze a possibilidade de ser surpreendido nos fins de noite, com alguma revelação polêmica, um fato ou entrevista “fora do trivial dona Maria”, no dizer dos soteropolitanos ao criticar mesmices. No último deles, a surpresa não poderia ter sido mais significativa, e relevante, do ponto de vista do jornalismo factual. Refiro-me à presença do desembargador gaúcho – um dos três magistrados da condenação do ex-presidente Lula em segunda instância, de passagem por NY, – diante da bancada do “Manhattan”: três dias após a prisão, em São Paulo, do ex-presidente Michel Temer, na operação Descontaminação.
No centro de tudo, a Operação Lava Jato, que chega aos 5 anos de severo combate a corruptos e corruptores no País (na política, nos governos e nos negócios), e volta ao olho do furacão nos debates nacionais do esquentado final de março. Que passou a arder ainda mais com o duelo verbal entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na esteira da Reforma da Previdência e das detenções de Temer e do ex-ministro e ex-governador do Rio, Moreira Franco (entre outros), determinadas pelo juiz federal, Marcelo Bretas. Todos soltos, na segunda-feira, 25, por decisão do desembargador Antonio Ivan Athié, do TRF-2, que agrega novos e incendiários ingredientes à discussão.
Lucas Mendes, no estúdio em NY, tenta produzir uma antevisão do desfecho do caso em andamento, e faz comparações em seu estilo direto – sem perder o bom humor -, sobre as prisões de Lula e Temer, pela Lava Jato. Pede esclarecimentos do entrevistado sobre similitudes e dessemelhanças entre as duas polêmicas situações. E faz a pergunta crucial: essas prisões reforçam ou ameaçam a Lava Jato?
Presidente da turma e revisor, no TRF- 4, dos processos da Lava Jato, em Curitiba, Paulsen estabelece o que ele considera as “diferenças grandes”: Lula foi preso para cumprimento de pena já estabelecida. A de Temer foi uma prisão preventiva, “quando se avançou um pouco mais, se foi mais ousado no combate à criminalidade… é algo novo o que nós temos aí – a prisão preventiva de um ex-presidente”. Sobre suas expectativas no caso Temer, o desembargador também vai direto ao ponto: “Espero que essa prisão tenha bons fundamentos. Isso só veremos nos próximos dias, a partir do momento em que a decisão do magistrado for escrutinada no Tribunal Federal Regional ou em algum tribunal superior”. E assinalou: “o que não podemos deixar de considerar é que este ca so (Temer) é fruto praticamente do fim do foro privilegiado no nosso País”. Teve mais, muito mais, mas fico por aqui.
Gol de placa jornalístico, na quase madrugada da TV brasileira, esta entrevista, cuja íntegra, disponível na internet, sugiro, vivamente, a quem perdeu a apresentação no calor da hora. Viva!
Vitor Hugo Soares, jornalista
Vitor Hugo Soares, Blog do Noblat, Veja