quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Trump: 'Se eu sofrer impeachment, o mercado vai desabar'


Trump diz que não entende como poderia sofrer impeachment se faz 'um bom trabalho' - MANDEL NGAN / AFP


WASHINGTON - "Se eu sofrer um impeachment, o mercado vai desabar", afirmou nesta quinta-feira o presidente americano Donald Trump em entrevista à Fox News, abordando o imbróglio judicial que envolve seus ex-colaboradores Michael Cohen e Paul Manafort e a investigação sobre a suposta interferência russa nas eleições de 2016.

— Não sei como se poderia fazer o impeachment de alguém que fez um bom trabalho — afirmou Trump ao ser perguntado se achava que o oposicionista Partido Democrata instauraria um processo para afastá-lo do cargo caso ganhe a maioria do Congresso nas eleições legislativas de novembro.

Trump afirmou que Manafort, seu ex-chefe de campanha condenado por fraude financeira e fiscal, e Cohen, seu ex-advogado que se entregou ao FBI admitindo a culpa ao violar leis de financiamento de campanha, foram acusados em matérias que nada têm a ver com sua campanha presidencial — mesmo tendo Cohen confessado a um juiz que o presidente ordenou que ele fizesse pagamentos em 2016 para silenciar duas mulheres (a atriz pornô Stormy Daniels e a ex-modelo da Playboy Karen McDougal) que alegavam ter tido casos com ele.

COHEN, UM VIRA-CASACA

Sem oferecer qualquer prova, Trump afirmou que as violações no financiamento de campanha admitidas por Cohen não eram crime nenhum. Os promotores e o próprio Cohen discordaram, afirmando o contrário.

Perguntado se realmente ordenara que Cohen fizesse os pagamentos, Trump respondeu que foi o próprio ex-advogado que fez os arranjo para pagar as duas mulheres. E atacou Cohen — antes tão leal, disse — por fazer um acordo com os promotores que pegou mal para ele.

— Isso se chama virar a casaca, e praticamente deveria ser um crime.

Na entrevista, Trump expressou simpatia por Manafort, dizendo que respeitava o trabalho que ele tinha feito por políticos republicanos importantes, e afirmando que "algumas das acusações que lançaram contra ele são as amesmas que qualquer consultor ou lobista em Washington faria."

DURAS CRÍTICAS A JEFF SESSIONS

O presidente americano também subiu o tom contra o secretário de Justiça Jeff Sessions e o Departamento de Justiça dos EUA, bem como contra o FBI, insistindo em que o tratam injustamente com relação ao suposto conluio com a Rússia para interferência nas eleições presidenciais de 2016. Recentemente, o ex-chefe da CIA John Brennan, que teve suas autorizações de segurança em Washington revogadas por Trump, o acusou, num artigo no "New York Times", de ser cúmplice dos russos e frisou que suas negações sobre o assunto não passavam de balela. "Numa palavra, um disparate", escreveu.


O secretário de Justiça Jeff Sessions: alvo de duras críticas do presidente americano - LEAH MILLIS / REUTERS

Trump culpou Sessions pelo que chamou de corrupção no alto escalão do órgão, e foi incisivo:

— Botei no cargo um procurador-geral que nunca assumiu o controle do Departamento de Justiça.

No entanto, o presidente garantiu que não vai interferir nos assuntos do departamento.

— Não vou me envolver, e esta talvez seja a melhor coisa a fazer.

Sessions, que sempre apoiou Trump e é senador há muito tempo, enfureceu o presidente ao se negar a interferir nos assuntos ligados à campanha presidencial de 2016. Assim, ficou de fora da investigação sobre o suposto conluio da campanha de Trump com os russos, conduzida pelo promtor especial Robert Mueller.

— Jeff Sessions se negou a supervisionar a investigação, o que não deveria ter feito — declarou Trump. — Ele aceitou o cargo e depois disse 'não vou interferir'. Que tipo de homem é esse?

As agências de inteligência americanas concluíram que os russos hackearam e vazaram e-mails da candidata Democrata Hillary Clinton em 2016, prejudicando sua campanha e favorecendo Trump, que foi eleito presidente. O Kremlin repetidamente negou as acusações, bem como Trump.


Com O Globo e agências internacionais