quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Marin é condenado a 4 anos de prisão pela Justiça dos EUA. É um trombadinha. Já imaginaram Lula julgado lá? Ia morrer decrépito no xilindró

O ex-presidente José Maria Marin foi condenado nesta quarta-feirta (22) a quatro anos de prisão
O ex-presidente José Maria Marin foi condenado nesta quarta-feirta (22) a quatro anos de prisão - Don EMMERT - 13.dez.2017/AFP

NOVA YORK
A Justiça americana condenou nesta quarta-feira (22) o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin, 86, a 48 meses de prisão e a pagar multa de US$ 1,2 milhão (R$ 4,8 milhões) por receber propinas e lavar dinheiro no escândalo de corrupção da Fifa.
Marin foi condenado depois de um julgamento de 3 horas pela juíza Pamela Chen, que ordenou ainda o confisco de US$ 3,35 milhões (R$ 13,4 milhões) do cartola.
Dos 48 meses estipulados inicialmente, Marin deverá cumprir apenas 28. A defesa espera que sete sejam retirados da sentença por bom comportamento e outros 13 meses que o cartola já está preso devem ser considerados.
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Depois, ele ficará dois anos em condicional, período durante o qual terá que prestar contas regularmente ao governo americano —mesmo que seja deportado ao Brasil ao fim do tempo de prisão.
Marin aguardará a definição do local onde cumprirá pena no presídio do Brooklyn, onde está detido. A defesa pediu que ele fosse encaminhado para uma penitenciária de segurança mínima, em recomendação que foi acatada pela juíza Chen —que, porém, não tem o poder de decidir para onde ele será enviado.
Os advogados disseram que vão apelar da decisão.
A multa de US$ 1,2 milhão será dividida em seis parcelas, que começarão a ser pagas seis meses depois de 20 de novembro, quando a juíza fará nova audiência para decidir sobre a restituição de valores a Fifa, Conmebol, Concacaf e ex-funcionários da Traffic Sports USA.
Em sua decisão, a juíza diz ter levado em consideração a idade avançada de Marin para determinar a sentença de quatro anos —a idade média de prisioneiros nos EUA é de 36 anos. Chen admitiu que qualquer pena muito extensa, no caso do ex-dirigente, seria equivalente a uma “sentença de morte”.
​Mas a juíza lembrou que o ex-presidente da CBF já tinha 79 anos quando começou a conspirar para os crimes dos quais foi acusado. Chen também desconsiderou outro argumento da defesa, de que Marin teve papel secundário no esquema de pagamento de propinas e foi vítima de um ambiente já corrompido.
“Ao tomar conhecimento da corrupção na Fifa, ele deveria ter falado não e exposto o esquema, em vez de se juntar a ele”, afirmou a magistrada.
Marin esteve presente na audiência. Ele ouviu as argumentações da juíza com a ajuda de um intérprete. Antes de escutar a sentença, o cartola leu um texto no qual disse que sua vida virou um inferno após a prisão. 
Ele pediu para que, na decisão, Chen considerasse sua idade avançada e a ligação que tem com sua esposa, Neusa, que “tem sofrido demais”. Marin apelou para que fosse liberado para que pudesse comemorar os 60 anos de casamento com a mulher.
“Eu sou um homem sem futuro, mas estou preocupado com [a esposa] Neusa. Jesus carregou uma cruz, eu carrego duas cruzes. Ela não tem nada a ver com isso”, disse, chorando.
Nesse momento, aparentou estar fortemente emocionado, o que fez a juíza ordenar um intervalo de dez minutos para que ele pudesse se recompor.
Neusa Marin, mulher do ex-presidente da CBF José Maria Marin, deixa a corte federal de Nova York após a divulgação da sentença nesta quarta-feira (22)
Neusa Marin, mulher do ex-presidente da CBF José Maria Marin, deixa a corte federal de Nova York após a divulgação da sentença nesta quarta-feira (22) - Mary Altaffer/Associated Press
Ao lado do intérprete, Marin falou poucas vezes. Em uma das únicas ocasiões em que reagiu ao que a juíza dizia, mostrou irritação quando Chen questionou o serviço público prestado pelo cartola —um dos argumentos usados pela defesa para tentar evitar a imposição de uma sentença maior ao cartola.
Chen levantou dúvidas sobre a contribuição de Marin à comunidade, lembrando que ele se afastou do serviço público na década de 1980 —ele governou São Paulo entre 1982 e 1983.
Marin assumiu o posto na condição de vice do então governador Paulo Maluf, que na época deixou o cargo para concorrer à Câmara dos Deputados. 
“O bem que ele fez à comunidade foi ofuscado pelo mal que fez nos últimos anos”, afirmou a juíza. 
Ao ouvir a tradução, o ex-presidente da CBF murmurou “eu estava aposentado”.
Em sua argumentação, a juíza afirmou que o espírito público deixou Marin em 2012, quando ele começou a fazer parte do que a Promotoria qualifica de conspiração para obter ganhos financeiros com a transmissão de partidas oficiais da Fifa.
"Ele não precisava do dinheiro, e é difícil de acreditar que ele não sabia que o que estava fazendo é errado. Não havia razão para que cometesse os crimes", afirmou a juíza.
A condenação foi mais branda do que a pena pedida pela promotoria, que era de dez anos de prisão e multa de cerca de US$ 7 milhões (R$ 28,4 milhões).
Marin foi preso em maio de 2015 na Suíça e extraditado em novembro do mesmo ano para os Estados Unidos. 
Condenado nos EUA por seis crimes cometidos durante sua gestão na CBF, José Maria Marin assumiu o cargo em 2012, aos 79 anos, para cumprir o restante do mandato de Ricardo Teixeira, que renunciou.
Ele era o vice mais velho e, por isso, ficou com o posto, seguindo estatuto da confederação. Antes de ser presidente da CBF, foi vereador, deputado estadual e governador de São Paulo.
Os advogados Paulo Peixoto (esquerda) e Julio Barbosa falam com os jornalistas após a divulgação da sentença de quatro anos de prisão para o ex-presidente da CBF, José Maria Marin
Os advogados Paulo Peixoto (esquerda) e Julio Barbosa falam com os jornalistas após a divulgação da sentença de quatro anos de prisão para o ex-presidente da CBF, José Maria Marin - Don Emmert/AFP
As acusações no chamado Fifagate englobam ações de suborno, fraudes e de lavagem de dinheiro. Os cartolas teriam recebido pagamentos ilegais, que começaram em 1991 e atingiram duas gerações de dirigentes e executivos, que movimentaram mais de R$ 564 milhões.
Empresários do marketing esportivo como Alejandro Burzaco, da Torneos y Competencias, J. Hawilla, da Traffic, e Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, pai e filho donos da Full Play, teriam subornado os cartolas com viagens de jatinho, banquetes em restaurantes badalados e suítes de hotéis cinco estrelas.
O objetivo era obter vantagens na negociação de contrato para terem os direitos de transmissão de partidas da Copa do Mundo.

Danielle Brant, Folha de São Paulo