Em 2009, o diretor Kleber Mendonça Filho se inscreveu num edital do Ministério da Cultura buscando verba para bancar seu primeiro longa, “O Som ao Redor”.
O edital era voltado a filmes de baixo orçamento, e um de seus artigos definia claramente o que isso significa: são as obras “cujo custo de produção e cópias não ultrapasse o valor de até R$ 1,3 milhão”.
Havia uma outra parte do edital, chamada “dos impedimentos e motivos para indeferimento da inscrição”, que repetia a informação: “projeto com orçamento superior a R$ 1,3 milhão” não poderia se inscrever.
O filme de Mendonça Filho tinha um custo inicial previsto de R$ 1,5 milhão. Não poderia, portanto, ter se candidatado ao tal edital. Acabou sendo um dos vencedores dele, apesar disso. Uma vez contemplado, ainda aumentou os custos para R$ 1,9 milhão e acabou captando R$ 1,7 milhão.
A discrepância entre o valor do filme e o teto do edital foi identificada na Ancine em 2010, mas a liberação da verba acabou sendo aprovada. Em 2012, ainda sob o governo Dilma, iniciou-se uma investigação que resultou, no início deste mês, num pedido de devolução integral da verba captada.
Após a Folha noticiar essa história, nesta terça (22), as redes sociais se encheram de gente acusando o MinC de perseguição política, pelo protesto que o diretor fez em Cannes contra o atual governo, em 2016.
À luz da informação disponível, é difícil encampar essa tese.