Eduardo Bresciani - O Globo
Em depoimento à CPI, José Carlos Cosenza diz que não tinha conhecimento de supostos desvios de recursos para agentes políticos
O diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, sucessor de Paulo Roberto Costa no cargo, disse na tarde desta quarta-feira em depoimento à CPI mista da Petrobras que “nunca ouviu falar” de desvios de recursos ou formação de cartel para a realização de obras para a companhia. Em depoimento que durou quase três horas, Cosenza destacou que a empresa realiza apurações internas e acompanha as investigações sobre o tema.
O relator da comissão, Marco Maia (PT-RS), utilizou declarações de Costa em depoimento a Justiça para questionar o sucessor sobre eventual propina de 3% nos contratos, repasses a partidos políticos e formação de cartel das grandes empreiteiras fornecedoras da Petrobras. Para todas elas, a resposta foi semelhante.
Questionado sobre a declaração de Costa de que o pagamento de propina era comum antes de seu período na companhia, Cosenza deu uma negativa mais contundente.— Nunca ouvi falar — repetiu.
— Em meus 38 anos de empresa não tenho essa informação de que antes ou depois dele havia esse esquema de corrupção. Desconheço totalmente — afirmou.
O atual diretor destacou seu tempo de trabalho na companhia e afirmou ter conseguido bons resultados para a empresa na melhoria dos processos de refino, principal atribuição da área de abastecimento. Iniciou sua exposição lamentando não poder comparecer à comissão na semana passada por problemas de saúde. Na semana passada apresentou um atestado médico que foi questionado pela oposição.
O diretor afirmou que após assumir o cargo trocou três telefonemas e teve dois encontros com Costa. O primeiro encontro foi após assumir o cargo para tratar de assuntos relativos à transição. O segundo foi para receber uma proposta de implantação de minirefinarias para a qual Costa fazia lobby. Cosenza ressalta que a proposta foi considerada inviável pela Petrobras.
Cosenza afirmou ainda que não tinha relação de amizade com Costa, mesmo quando foi seu subordinado. Destacou que não havia nem proximidade física de seu escritório com o do diretor, que ficavam distantes por três andares.
— Minha relação era profissional. Nunca frequentei a casa dele, nem ele a minha.
Afirmou que quando era gerente chegou a reunir-se com empreiteiras, mas apenas para tratar do andamento de obras que estavam sob sua jurisdição. Ele negou conhecer o doleiro Alberto Youssef, preso na operação Lava Jato da Polícia Federal.
INVESTIGAÇÕES INTERNAS
O diretor afirmou que estão "nos finalmente" as investigações internas da companhia sobre as obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da compra da refinaria de Pasadena. Questionado se já houve algum funcionário punido, disse que qualquer medida só poderá ser tomada após a conclusão destas apurações.
— Estamos fazendo as investigações. Fazer ação sem ter conclusão seria temerário.
São várias comissões andando em paralelo, que estão nos finalmente. Vamos agir quando tiver resultado - afirmou Cosenza.