O Globo
Corte dos US$ 15 bi finais foi anunciado nesta quarta. Mercado agora espera decisão sobre juros
WASHINGTON - O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) anunciou nesta quarta-feira que encerrará seu programa de compras de títulos, uma das principais armas para impulsionar a economia americana. Como esperado pelo mercado, a autoridade monetária decidiu cortar os US$ 15 bilhões que ainda restavam do pacote de estímulos, que chegou a ser de US$ 85 bilhões quando entrou em vigor.
O Fed destacou pontos positivos e negativos na economia para justificar a medida. Entre os motivos que sugerem um fortalecimento, o destaque é o mercado de trabalho. A taxa de desemprego dos EUA chegou a 5,9% em setembro, a menor desde julho de 2007. O comunicado desta quarta trouxe uma mudança na linguagem do Comitê de Mercado Aberto (espéice de "Copom" dos EUA): em vez de dizer que a subutilização da força de trabalho "continua significante", o texto fala em uma "redução gradual" desse indicador, o que sugere mais otimismo dos integrantes.
“As condições do mercado de trabalho melhoraram, com sólidos ganhos de postos de trabalho e uma taxa de desemprego menor. Em compensação, uma faixa dos indicadores do mercado de trabalho sugere que a subutilização da força de trabalho está gradualmente diminuindo”, avaliou o órgão, em comunicado.
Economistas veem uma ligeira pressão sobre o dólar nos mercados de todo o mundo com o encerramento do programa de estímulos e que poderá se tornar ainda maior com a elevação dos juros nos Estados Unidos esperada para o ano que vem.
— O fim do programa era amplamente esperado, mas ocorreu com um viés mais otimista. Fica evidenciado que o Fed está otimista com as variáveis e que o cenário de alta dos juros deve ocorrer em meados do ano que vem — afirma Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
JUROS CONTINUAM BAIXOS
Com o fim do programa de compras de títulos, a atenção dos analistas se volta totalmente para o destino da taxa federal de juros, que tem se mantido próxima a zero desde a crise de 2008. O grau de otimismo deve influenciar a decisão do Fed, embora o comitê continue dizendo que os juros continuarão baixos por "um tempo considerável" depois do fim das compras de ativos. Apesar disso, o comunicado deixa uma brecha para uma alta antes do previsto:
“No entanto, se as informações indicarem um progresso em direção aos objetivos de emprego e inflação mais rápido que o Comitê espera hoje, o aumento da meta para a taxa de juros provavelmente ocorrerá antes do que o previsto”, diz a nota.
A expectativa em relação ao comunicado do BC americano influenciou o humor dos mercados em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde o dólar chegou a cair a R$ 2,43, enquanto o texto não era divulgado. No exterior, as Bolsas operaram em estabilidade mais cedo, e registravam leve queda logo após a publicação da decisão.
FED INJETOU US$ 5 TRI DESDE A CRISE
Desde dezembro, o Fed vem diminuindo gradativamente o volume injetado no mercado financeiro, em sucessivos cortes de US$ 10 bilhões a cada mês — um sinal de que a economia americana mostrava sinais de recuperação. O objetivo da autoridade monetária era dar mais liquidez ao mercado, ajudando a manter baixas as taxas de juros de longo prazo.
A fase encerrada nesta quarta foi a terceira do programa, conhecido como quantitative easing (afrouxamento monetário). Iniciada em setembro de 2012, foi precedida por outras duas rodadas: uma entre novembro de 2010 e junho de 2011 e outra entre novembro de 2008 e março de 2009. No primeiro momento, a missão era estabilizar a economia, depois, o objetivo foi estimular a atividade. Ao todo, foram injetados mais de US$ 5 trilhões na economia nesses cinco anos.
A decisão desta quarta-feira era a aposta da maioria dos analistas do mercado, segundo pesquisa da Bloomberg News. Dos 64 economistas ouvidos pela agência, 62 esperavam que o Fed encerrasse de uma vez o pacote. A minoria dos entrevistados esperava que a autoridade monetária fizesse mais um corte de US$ 10 bilhões, deixando os US$ 5 bilhões restantes para o próximo mês.