Em sua primeira reunião após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o Banco Central surpreendeu e elevou a taxa básica de juros da economia de 11% para 11,25% nesta quarta-feira (29).
A alta do dólar e a piora nas contas públicas foram os motivos que levaram cinco dos oitos integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária), incluindo o seu presidente Alexandre Tombini, a decidir elevar a chamada taxa Selic -três diretores votaram pela manutenção do juro.
As apostas no mercado eram de manutenção de juros neste momento, com possibilidade de alta a partir de dezembro deste ano.
O aperto monetário, três dias após a reeleição da petista, foi visto no mercado como uma tentativa de reconquistar a credibilidade da política de combate à inflação.
No comunicado da decisão, o Copom informou que "a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável". Os "preços relativos" que vinham sendo citados pelo BC como responsáveis pela inflação recente eram as tarifas e o câmbio.
"À vista disso, o Comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016", disse o Copom.
A taxa Selic estava em 11% ao ano desde abril. Conforme a Folha revelou nesta quarta-feira, assessores presidenciais não descartavam uma alta de juros ainda em 2014, na última reunião do ano.
O câmbio está entre os principais fatores que podem levar a inflação a ficar acima do limite de 6,5% fixado pelo próprio governo.
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UNÂNIME
A decisão não foi unânime: foram 5 votos pelo aumento e 3 pela manutenção. Votaram pela elevação da taxa Selic para 11,25% o presidente do BC, Alexandre Tombini e os diretores Aldo Luiz Mendes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo e Sidnei Corrêa Marques. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 11% Altamir Lopes, Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim.
Em sua mais recente previsão, o BC projetou inflação de 6,3% em 2014, mas com um dólar a R$ 2,25. Hoje, a moeda está na casa de R$ 2,45. O aumento de 10% na cotação desde então é suficiente para estourar o limite da meta.
Para Mauricio Molan, economista-chefe do Santander, o que explica o timing da decisão é a confirmação da visão de analistas que o governo se esforçaria para emitir sinais de passar a conduzir uma política monetária mais austera.
"Na nossa visão, essa decisão aumenta a chance de haver sinais de austeridade antes do esperado também para a política fiscal", afirma Molan. "Há um esforço para gerar um choque favorável de expectativas."
O economista afirma que a expectativa da equipe macroeconômica do Santander é de haver um novo aumento de 0,25 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Copom e que a taxa termine em 12,5% no final de 2015.