Blog Reinaldo Azevedo - Veja
Há, assim, um cheirinho de Demóstenes Torres no deputado petista André Vargas (PR), que é nada menos do que vice-presidente da Câmara e do Congresso. Ele já mudou a versão. Admite agora que o doleiro Alberto Youssef — aquele que dizia nem conhecer direito, mas que chamava de irmão — pagou, sim, o jatinho em que ele viajou. É mesmo? Pagou por quê? Ora, amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, certo?
Vargas não tem, é verdade, no governismo, a importância que o ex-senador chegou a ter no oposicionismo — é que nem dá, né? A área é muito congestionada. De todo modo, é bom que se tenha claro: é um figurão do PT. A PF acredita que mantenha com o doleiro preso uma espécie de “sociedade” — a mesma suspeita que chegou a pesar, diga-se, na relação entre Carlinhos Cachoeira e Demóstenes. Depois se viu que não: o então senador aceitou ser uma espécie de facilitador de negócio do contraventor no Congresso.
Leiam o que informa reportagem da VEJA.com. Volto em seguida:
“Nas conversas interceptadas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef e o vice-presidente da Câmara, André Vargas, demonstram ter muito mais do que uma relação de amizade. Em quase cinquenta mensagens registradas pela PF, Vargas recebe orientações do doleiro, combina reuniões com Youssef e chega a passar informações das conversas que ele, como parlamentar do PT, mantinha com integrantes do governo.
Como é natural nesses diálogos nem sempre edificantes flagrados pela polícia, Vargas e Youssef adotam a precaução de conversar em códigos. Para Polícia Federal, no entanto, os registros colhidos na operação mostram que Vargas faz parte de projetos de Youssef e usa sua influência no governo em benefício do parceiro.
Nas mensagens obtidas pela polícia, Vargas e Youssef tratam de interesses do laboratório Labogen Química Fina e Biotecnologia no Ministério da Saúde. Como VEJA revelou há duas semanas, a Labogen é uma das empresas do esquema do doleiro.
A Polícia Federal já descobriu que a empresa – que está no nome de um laranja de Youssef e é tudo menos um laboratório farmacêutico – já havia conseguido fechar uma parceria com o Ministério da Saúde pela qual receberia 150 milhões de reais em vendas de remédios para o governo. No dia 26 de fevereiro deste ano,
Vargas escreve para Yousseff: “Reunião com Gadelha foi boa demais… Ele garantiu que vai nos ajudar, que sabe da importância, e encaminhou reunião decisiva dia 18, mas pediu que entregássemos os medicamentos da primeira PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo) e concluíssemos Anvisa, boas práticas aqui em BSB”. O doleiro elogia o empenho de Vargas: “Que bom. Parabéns.” E diz que já estão prontos para a Anvisa. “Muito bom”, finaliza Vargas.
(…)”
Retomo
Demóstenes, tudo indica, operava por sua própria conta, sem ramificações no seu partido. Já André Vargas, um dos braços de Lula, trabalha, como se sabe, para o PT. Nessa legenda, não existe muito espaço para, digamos, a “livre iniciativa”.