Autoridades atendem apelo da Comissão Nacional da Verdade e abrirão sindicância para apurar mortes e torturas em dependências militares entre 1964 e 1985; arquivos dos centros de inteligência, contudo, não serão abertos
Leonencio Nossa - O Estado de S. Paulo
O ministro da Defesa, Celso Amorim, comunicou nesta terça-feira,
1º de abril, à Comissão Nacional da Verdade que as Forças Armadas aceitaram
abrir sindicância para apurar mortes e torturas em dependências militares no
tempo da ditadura (1964-1985). Não foi desta vez, porém, que Amorim respondeu ao
apelo do grupo para abrir os arquivos dos centros de inteligência relativos às
violações de direitos humanos no período do regime miliar.
As sindicâncias e investigações internas abertas nos anos 1980 e 1990 pelas Forças Armadas para investigar crimes da ditadura resultaram em relatórios incompletos, que não apontavam autoria das mortes e torturas nem as condições em que guerrilheiros foram executados. Em 1993, a Marinha chegou a apresentar um relatório com dados sobre mortos na guerrilha do Araguaia, no começo dos anos 1970, no Sul do Pará.
As sindicâncias abertas agora pelas Forças Armadas se limitam aos crimes ocorridos em sete dependências militares no Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais. Ficam de fora dessas investigações unidades já desativadas da região do Araguaia, no Pará, que serviram de prisão ou local de execução de 41 guerrilheiros comunistas. A guerrilha no Araguaia foi o movimento armado mais estruturado do período da ditadura. A investigação sobre as execuções dos seus integrantes pelo Exército não é uma prioridade da Comissão Nacional da Verdade.