Ramona Rodriguez desembarcou em Miami nesta segunda-feira, 31
Lisandra Paraguassu - O Estado de S. Paulo
Eraldo Peres/AP
Em vídeo, Ramona Rodriguez voltou a
criticar as condições de trabalho
Primeira médica cubana a abandonar o programa Mais Médicos e pedir asilo ao Brasil, Ramona Rodriguez deixou o país nesse final de semana e asilou-se nos Estados Unidos. De acordo com a Associação Médica Brasileira (AMB), onde Ramona trabalhava desde que deixou o programa federal, a médica pediu demissão a semana passada e chegou a Miami, na Flórida, na manhã desta segunda-feira, 31.
Ramona chegou ao Brasil em outubro do ano passado, no segundo grupo de médicos cubanos contratados pelo governo brasileiro através da Organização Pan-americana de Saúde. A médica estava trabalhando em Pacajá (PA) quando decidiu abandonar o programa ao descobrir que os colegas não cubanos recebiam 10 vezes mais. Ramona entrou com uma ação na Justiça reivindicando direitos trabalhistas e também com um pedido de asilo político. Nesse meio tempo, passou a trabalhar na área administrativa da AMB com um salário de R$ 3 mil.
Ramona havia pedido também à embaixada dos Estados Unidos em Brasília o asilo especial dado pelo governo americano a profissionais de saúde. Na época, a embaixada não confirmou o pedido, mas explicou que a lei americana dá visto de residência imediato a profissionais de todas as áreas de saúde e, inclusive, treinadores esportivos, vindos de Cuba.
Em vídeo entregue à AMB, Ramona cumprimentou o povo de Pacajá, no Pará, onde trabalhou. "Olá, amigos, já estou nos Estados Unidos. Depois de meses de sofrimento, de insegurança e desespero, por não saber o que se passaria com meu futuro, agora estou no País que mais recebe cubanos", disse.
A médica voltou a criticar as condições de trabalho: "no Brasil nós médicos cubanos viemos enganados. Pensamos que íamos receber os mesmos salários que os outros médicos estrangeiros que trabalhavam também neste programa. Nós somos vigiados, nos violam o direito de liberdade, de movimento, de ir e vir por todo o País, de conhecer esse País que nos acolheu com tanto carinho. Agradeço de todo coração pela ajuda que recebi dos amigos de Pacajá assim como da Associação Médica Brasileira (...). A saúde deve ser uma prioridade do Estado e um direito", disse.
Em uma nota à imprensa, o presidente da AMB, Florentino Cardoso, afirma que a Associação respeita a decisão da médica e que não tem nada contra os médicos estrangeiros, mas sim com a forma de contratação, que classificou de "análoga à escravidão".
Até agora, 29 cubanos deixaram o trabalho, sendo que 22 deles voltaram para Cuba alegando problemas de saúde ou familiares. Entre os demais, Ramona e Ortélio Guerra estão nos Estados Unidos. O paradeiro dos demais é desconhecido.