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O ex-ministro do Supremo Carlos Velloso, que recusou convite para ser ministro da Justiça de Temer |
DANIEL CARVALHO
MARINA DIAS
CAMILA MATTOSO
Folha de São Paulo
Na entrevista à Folha Veloso contou ainda que não estaria disposto a ficar até o fim do governo, no fim de 2018.
MARINA DIAS
CAMILA MATTOSO
Folha de São Paulo
O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Mário Velloso, 81, decidiu recusar o convite do presidente Michel Temer para ser ministro da Justiça no lugar de Alexandre de Moraes.
Dois obstáculos foram apontados por ele para não aceitar o cargo: a pressão da família e contratos com cláusulas de exclusividade com seu escritório de advocacia, que atua em mais de 50 ações em tribunais.
Velloso disse à Folha que comunicou sua decisão a Temer na tarde desta sexta (17). "Avisei o presidente. Ele entendeu, era uma questão ética. Tenho compromissos a honrar e consultei a todos, mas não pude deixá-los", disse.
"São contratos que eu tenho que manter. A menos que o contratante tivesse disposto a aceitar a minha saída. Não foi o caso", ressaltou.
Velloso e Temer conversaram na noite de quinta (16) sobre os problemas.
Auxiliares que estiveram com Temer em São Paulo nesta sexta afirmam que o presidente "já estava preparado para a escolha de outro nome" para o Ministério da Justiça desde a noite passada.
Esses assessores disseram ainda que Temer havida dado um prazo até o fim da tarde desta sexta para que Velloso respondesse ao convite, mas já avaliava que os clientes do escritório de advocacia do ex-ministro do STF inviabilizariam sua ida para o governo. Além disso, os filhos de Velloso eram contrários à sua nomeação para a pasta.
O ex-ministro havia declarado à Folha que, por ele, estaria "80% resolvido" no sentido de aceitar o convite, apesar das dificuldades impostas.
Ele reuniu-se com Temer na terça-feira no Palácio do Planalto. O presidente havia decidido pelo nome dele, dependendo apenas da resposta.
A ideia de Temer era nomeá-lo a partir de quarta (22), após a sabatina de Alexandre de Moraes no Senado.
Com a recusa de Velloso, o presidente terá de rever seu cardápio de opções para o ministério. Nesta fim de semana, Temer deve reiniciar a sondagem de novos nomes para a Justiça.
Entre os cotados, antes de o ex-ministro do STF ser convidado, estavam o vice-procurador-geral da República, José Bonifácio de Andrada, e o deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), apoiado pela bancada peemedebista na Câmara.
Segundo a Folha apurou, Temer descartou o nome do ex-secretário de Segurança Pública do Rio José Beltrame para a Secretaria de Segurança Pública do governo.
O presidente sondou o advogado Antonio Mariz para o posto, mas ele ainda não sinalizou sobre o assunto.
UM ANO
Na entrevista à Folha Veloso contou ainda que não estaria disposto a ficar até o fim do governo, no fim de 2018.
"Seria para ficar um ano apenas. E eu já até falei isso para o presidente. Não mais que um ano", disse.
"Quando falou comigo, ele [Temer] disse isso, que queria minha ajuda para salvar o Brasil. Talvez ele tenha até se excedido um pouco. Mas é uma coisa muito importante", afirmou.
"E, se aceitar, vou ter até de pagar para ser ministro, porque não vou poder aceitar mais um níquel", ressaltou Velloso, em referência à sua atuação como advogado.
Segundo ele, os clientes de seu escritório de advocacia em Brasília foram consultados sobre o assunto. Se houvesse apelos para que permanecesse fazendo a defesa de um ou outro, isso pesaria na sua decisão sobre o convite de Temer, diz.