DIOGO BERCITO - Folha de São Paulo
Máquinas poderão substituir quase 250 mil funcionários públicos no Reino Unido durante os próximos 15 anos, segundo um relatório publicado neste mês por um instituto liberal de pesquisa.
O texto da organização Reform sugere que a burocracia no futuro precisará ser azeitada por atendimentos automáticos e robôs, gerando uma economia anual de mais de R$ 16 bilhões. Setores como polícia, educação e saúde seriam afetados.
A perspectiva preocupa, por outro lado, os sindicatos, que enxergam nessa proposta um cenário distópico com menos empregos e direitos trabalhistas mais mirrados.
O estudo, de 90 páginas, sugere que a administração britânica é pouco produtiva e que será inviável mantê-la.
"Acreditamos que o setor público vai mudar porque precisa", disse à Folha Emilie Sundorph, coautora da pesquisa. "Não há dinheiro suficiente para sustentar o modo com que funciona."
"Haverá resistência e medo pela perda de postos e isso precisa ser levado em conta de uma maneira sensível. Mas a população também está interessada em serviços que funcionem bem."
Ela cita o exemplo dos procedimentos automatizados para a emissão de passaportes. Usuários recebem atualizações do processo diretamente e, assim, não precisam telefonar com frequência para pedir informações.
A automatização será especialmente relevante em tarefas cognitivas, como a identificação de padrões e a organização de processos, segundo dados do estudo. Por exemplo, secretários.
O Reform não sugere que todos o funcionalismo seja trocado por robôs. Haverá sempre, de acordo com o setor, uma parte necessária do pessoal com carne e osso.
Uma das razões é a população que não está acostumada a lidar com tecnologias, como os mais idosos.
Mas mesmo tarefas mais delicadas, como alguns procedimentos feitos por enfermeiras e médicos, podem ser substituídas pela tecnologia, segundo o texto do Reform.
SINDICATOS
Para Matt Dykes, relações públicas do TUC (Congresso de Sindicatos), o relatório sobre a automatização do setor público é o resultado de uma "pobre pesquisa".
O TUC é uma congregação nacional de sindicatos britânicos, com 51 afiliados e 5,8 milhões de membros.
Dykes reconhece que a tecnologia terá um papel para melhorar a produtividade do setor público, mas afirma que as propostas do instituto podem tornar os postos de trabalho mais precários.
"É uma má ideia para trabalhadores, famílias e contribuintes", afirmou.