domingo, 26 de fevereiro de 2017

Coaching Jurídico: um método alternativo para o sucesso

Viviane Veiga - O Estado de São Paulo


Setenta milhões. Este é o número aproximado de processos em tramitação nos tribunais brasileiros, segundo dados do estudo “Justiça em Números”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), referentes ao ano de 2015. Para dar cabo de todo esse montante, muitos magistrados, inclusive de Cortes Superiores, têm contado com a ajuda de um método alternativo, que, em poucas palavras, pode ser definido como “um processo que leva as pessoas a alcançar o sucesso”: o coaching.

Um estudo publicado na Harvard Business Review revelou que a maioria dos times atinge apenas 63% dos seus objetivos (Mankins & Steele, 2005). Entre as principais razões para o não atingimento das metas institucionais estão a adoção de recursos inadequados, estratégia de comunicação falha, indefinição de tarefas e responsabilidades, organização ineficiente e problemas como liderança fraca ou omissa. Processo inovador e criativo, o coaching vem sendo utilizado para mudar esse quadro nas instituições.

Com um pouco mais de detalhes, podemos dizer que coaching é um caminho para que o “coachee” descubra, efetivamente, quais são as suas metas e objetivos, a fim de torná-los alcançáveis, por meio de um percurso que o permita decidir de forma mais acertada. O coach é o profissional devidamente certificado e habilitado que vai guiar o coachee no caminho do êxito pretendido.

Desenvolvido durante períodos de três a seis meses, em sessões semanais de 45 minutos a 1 hora, o processo de coaching apresenta como benefícios comprovados elevação da produtividade, redução do estresse, mais satisfação e motivação, mais equilíbrio, desenvolvimento de habilidades específicas e elevação da autoestima, entre outros.

Mas de que forma o coaching pode ajudar os profissionais desse universo com características tão particulares e específicas que é a área jurídica, na qual atuam, além dos próprios magistrados, advogados, promotores, procuradores, defensores públicos e servidores da Justiça?

De início, podemos garantir que o coaching no mundo jurídico proporciona a seus atores a diminuição da ansiedade, do estresse, da fadiga e da falta de perspectiva de crescimento na carreira, auxilia no aperfeiçoamento da comunicação efetiva e no poder de persuasão, tão necessários para os profissionais da área, e desenvolve características de liderança.

Desenvolver todas essas habilidades ou grande parte delas sozinho é um grande desafio. Porém, com a parceria de um coach e a aplicação das ferramentas certas, é perfeitamente possível expandir essas habilidades e outras que vão tornar o caminho do coachee mais sólido e proporcionar mudanças mais efetivas.

O processo de coaching gera um aumento da consciência da pessoa a respeito da sua situação atual, inclusive do que deve ser melhorado. Além disso, promove um alinhamento dos interesses do trabalhador com os interesses da instituição, seja ela pública ou privada. E provoca, ainda, uma ampliação das possibilidades de ação para se atingir os objetivos almejados.

Uma vez que também amplifica a noção de propósito no trabalho e o engajamento do coachee nos resultados pretendidos, o coaching pode ser o instrumento que falta para proporcionar a qualquer profissional da área jurídica um upgrade na carreira, a otimização do ambiente de trabalho e o alcance com excelência dos seus objetivos.

A partir de técnicas de coaching, foi feita uma grande reestruturação no gabinete da Ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Delaíde Miranda Arantes. O primeiro passo foi a identificação dos talentos de cada integrante da equipe, com o objetivo de extrair o melhor de cada um para obter excelência no rendimento individual. 

Em seguida, buscou-se unir o time e valorizar o trabalho coletivo, adotando-se estratégias para o cumprimento de metas arrojadas e para a premiação dos servidores.

Em resumo, o processo de coaching contribuiu para uma melhor gestão dos recursos humanos e dos processos do gabinete. Na prática, em cinco meses, o gabinete julgou 8 mil casos, contra os 11 mil apreciados em todo o ano de 2015. Além disso, hoje a equipe atua com mais vigor, disposição e ânimo, conscientes da importância do seu próprio trabalho para o conquista dos objetivos do gabinete e para o alcance da finalidade da atuação dos servidores, que é o interesse público.

*Viviane Veiga é servidora pública federal licenciada, pós-graduada em Direito Constitucional, sócia fundadora da Coaching Go e membro da Sociedade Brasileira de Coaching.