Efe/Peace Memorial Museum - 6.ago.45 | |
Foto mostra a explosão da bomba atômica após cair sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 1945 |
Folha de São Paulo
Consultei distraído o relógio outro dia e descobri, alarmado, que estamos a dois minutos e meio da meia-noite. Não o meu próprio relógio, que, há anos, só uso quando saio à rua de camisa social e calça comprida, mas o Relógio do Apocalipse — também chamado de Relógio do Fim do Mundo ou do Juízo Final. Trata-se de uma marcação simbólica do tempo, criada em 1947 pelo "Bulletin of the Atomic Scientists", da Universidade de Chicago, e atualizada, quando a situação exige, por um grupo de cientistas e intelectuais, incluindo hoje 16 ganhadores do Prêmio Nobel.
O relógio mede a quantos minutos estamos da meia-noite, representando a destruição da humanidade por uma guerra nuclear. A atualização se dá de acordo com o acesso de novos países à tecnologia nuclear, o grau de armamento desses países e os maus bofes ou irresponsabilidade de seus governantes. O mais próximo que estivemos da meia-noite — dois minutos — foi em 1953, quando EUA e URSS, ou Eisenhower e Stalin, estiveram a ponto de mandar o dedo. E o mais distante — 17 minutos — foi em 1991, quando a queda do Muro de Berlim decretou o fim da Guerra Fria.
A última atualização foi há três semanas, no dia 27 de janeiro. Com Donald Trump na Presidência americana, o assanhamento da Coreia do Norte, o terrorismo internacional, os drones, os ciberataques e o aquecimento global, estamos a dois minutos e meio da hora final. É a segunda pior marca do relógio.
Só espero que, nesse curto espaço, tenhamos tempo, no Brasil, para chegar ao nosso próprio apocalipse: a também chamada Delação do Fim do Mundo — em que as revelações dos informantes da Odebrecht porão em seu devido lugar, a cadeia, os patifes que ainda circulam por aqui.
Mas, pelo ritmo com que andam as coisas, periga o nosso apocalipse só acontecer depois.