Martha Beck - O Globo
DAVOS — O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai se reunir, nesta sexta-feira, com sua contraparte na Suíça, Michel Lauber, para discutir a ampliação a operação Lava-Jato. Ele afirmou hoje que vai tratar de “investigações que ainda virão”. Janot não descartou a possibilidade de aumento nos valores que serão recuperados graças ao trabalho de cooperação entre os dois países. Já foram bloqueados US$ 800 milhões em recursos desviados pelo esquema de corrupção da Petrobras, sendo que cerca de US$ 200 milhões já foram liberados pela Justiça Suíça.
Janot conversou hoje com participantes do Fórum Econômico Mundial de Davos sobre a Lava-Jato. Na reunião também estavam lideranças de outros países que queriam trocar experiências sobre o combate à corrupção, como Peru, África Sul, Argentina, Equador e Nigéria. O procurador disse que o debate abordou investigações compartilhadas entre o setor público e o setor privado, compliance e instrumentos de tecnologia na investigação.
— Eu falei como a gente desenhou essa investigação. Expliquei, por exemplo, que algumas empresas estão montando equipes de investigação internas. Elas fazem investigação na empresa e nos passam os resultados. A Petrobras é um exemplo — disse Janot, acrescentando:
— Estão vendo isso (Lava-Jato) como um modelo que está dando certo.
Ele recebeu perguntas da plateia sobre detalhes da operação, mas não quis dizer quais foram. O procurador apenas confirmou que um dos questionamentos foi sobre pressões que o Judiciário sofre no trabalho de combate à corrupção.
— O que eu falei foi que pressão indireta teve. E o que a gente faz é resistir a isso porque somos autônomos e independentes.
Ao ser perguntado pelos jornalistas se, no Brasil, a pressão vem do Legislativo, uma vez que a Lava-Jato envolve políticos, ele disse:
— Não vou dizer — despitou, acrescentando: — Não vem do Executivo. Pronto.
Janot não quis comentar a informação de que o número de executivos da Odebrecht que fizeram delação premiada teria subido de 77 para 120:
— Não posso falar sobre isso.
COMBATE AO 'CAPITALISMO DE COMPADRIO'
Na quarta-feira, Janot afirmou que o combate à corrupção está criando um ambiente jurídico mais seguro para os negócios no Brasil.
— O trabalho de combate à corrupção feito pelo Brasil é reconhecido no mundo inteiro. E falar sobre isso no âmbito de comunidade econômica internacional é passar a mensagem de que a segurança jurídica é boa para economia. Ele tem por finalidade uma economia saudável, que combate o capitalismo de compadrio, a cartelização e o sistema capitalista que não tem vocação para a eficiência econômica — afirmou Janot ao GLOBO.
Segundo ele, quem acha que os investidores podem ficar apreensivos em buscar o Brasil diante da abrangência de operações com a Lava-Jato, que revelou um esquema de corrupção na Petrobras e já dura há três anos, está enganado:
— O trabalho não gera apreensão. Pelo contrário. Ele gera uma expectativa de segurança jurídica. Todo mundo quer saber a regra do jogo, como funciona, como é que eu vou entrar no mercado e como que eu vou me comportar. Todo mundo quer segurança, quer que a regra seja aplicada para todo mundo, quer competição, quer entrar no mercado.