quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Dólar fecha abaixo de R$ 3,20 pela primeira vez em quase dois meses


  - Xaume Olleros / Bloomberg


JULIANA GARÇON / LUCAS MORETZSOHN - O Globo

Ibovespa sobe 0,78%; petróleo e minério de ferro dão força a ações de Petrobras e Vale


Com Petrobras e Vale em alta, a valorização da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nesta quinta-feira ganhou força principalmente no fim do pregão. O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, fechou com alta de 0,78%, a 62.070 pontos — maior patamar desde 28 de novembro —, mas chegou a avançar 1,01%, a 62.214 pontos, bem acima do avanço de 0,2% em torno de 12h. Os investidores ainda digerem a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), divulgada na quarta-feira, em um dia de agenda forte, que começou com dados que mostraram aceleração do setor de serviços chinês.

O dólar comercial, que abriu em queda, chegou a subir levemente, mas fechou o pregão em baixa de 0,65%, cotado a R$ R$ 3,198. A moeda americana não ficava abaixo de R$ 3,20 desde 8 de novembro de 2015, quando fechou em R$ 3,16. A divisa seguiu o mercado internacional: o “Dollar Index”, calculado pela Bloomberg e que mostra a variação do dólar frente a uma cesta de dez moedas, registrava recuo de 1,29%.

— Temos alguns pontos que acabam favorecendo a entrada de recursos no país e o desempenho do dólar. Temos algumas incerteza sobre como será a política no mercado de alguns países com eleições importantes, como Alemanha, França e quanto à postura de Donald Trump. Esse tipo de movimento, junto à taxa de juros que temos, acaba trazendo recursos para o Brasil que, por enquanto está fazendo o dever de casa, com as medidas do ajuste fiscal, que são importantes na visão de investidores — avalia Alison Correia, analista da XP Investimentos.

Correia também aponta o movimento de aquisições estrangeiras no país, diante do recorde de concordatas de empresas no ano passado devido à crise. Segundo ele, isso "gera oportunidade para os estrangeiros, que veem a possibilidade de comprar", mesmo que sejam participações.

A divulgação de dados favoráveis à economia americana também também se refletiram no pregão, já que os investidores ainda reagem à ata do Fed. O Departamento do Trabalho dos EUA informou que os pedidos de auxílio-desemprego caíram no fim de dezembro para nível abaixo do esperado. As solicitações somaram 235 mil, recuo de 28 mil, na semana encerrada em 31 de dezembro. As informações sobre o mercado de trabalho são levadas em conta pelo integrantes do BC americano quando decidem a política monetária americana.

A autarquia sinalizou a possibilidade de um ritmo mais acelerado para a elevação dos juros nos Estados Unidos este ano. Parte dos analistas, considerou que o tom do texto foi considerado mais animador. Outros, porém, avaliam que o texto expressou mais incertezas com relação a nova política fiscal a ser implantada por Donald Trump.

— A ata do Fed de ontem deixou claro que a autoridade monetária está pronta para agir em qualquer cenário econômico nos EUA — diz Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Research. — O mercado vai seguir esperando as verdadeiras medidas do novo presidente. Até lá, o real deve seguir forte frente ao dolar e investidores com apetite para o risco.

Correia estima que o dólar pode chegar ao nível mínimo de 2015, em torno de R$ 3,10, em até dois meses. No longo prazo, ele afirma que, se nada atrapalhar a aprovação de medidas do ajuste fiscal e as reformas estruturais na economia, a divisa americana pode chegar abaixo de R$ 3.

— Nossa questão no momento é política. São incertezas políticas. É preciso esperar o retorno do recesso parlamentar para ver de que forma darão continuidade à aprovação de medidas — sustenta.

IBOVESPA: COMMODITIES E EXPECTATIVA SOBRE JUROS

Os agentes de mercado também estão atentos a outros resultados do setor de serviços nos EUA, mas, principalmente, no relatório sobre os estoques de petróleo. O Departamento de Energia dos EUA anunciou nesta quinta-feira queda nas reservas americanas. Na semana encerrada em 30 de dezembro, os estoques de petróleo caíram 7,21 milhões de barris para 479 milhões.

A commodity vem sendo afetada pelas expectativas em torno do corte de produção, após entendimento entre os principais produtores do mundo.

Com o petróleo em alta, as ações da Petrobras tiveram alta no Ibovespa: as ON (ordinárias, com direito a voto) subiam 5,28%, a R$ 17,94, e as PN (preferenciais, sem voto) ganhavam 1,6%, a R$ 15,92. O barril do tipo Brent ganhava 0,36%, a US$ 56,82.

— O petróleo ficou muito volátil. Chegou a subir bem ao longo da sessão, mas perdeu força após o dado de estoques dos Estados Unidos, mas voltou a se recuperar. Apesar do dia volátil, o petróleo se mantém em alta e favorece as ações da Petrobras — afirma Ignácio Rey, da Guide Investimentos.

A mineradora Vale teve valorização de 3,81% nos papéis ON, a R$ 26,68. Já as PN subiram 4,73%, a R$ 24,77, favorecida pela alta do minério de ferro no porto de Qingdao, na China, de 2,17%.

— A Vale foi a que mais contribuiu. O índice subiu em torno de 520 pontos, as ações da Vale contribuíram com cerca de 230 pontos, num cenário de minério de ferro em alta, subindo mais de 2% na China. Tem sido um movimento favorável para as commodities. As commodities estão passando por um momento de acomodação desde meados de dezembro, mas subiram muito a partir de outubro, novembro. Isso contribuiu para melhorar que o cenário voltasse a ser positivo para emergentes — aponta Rey.

— Depois de um momento de maior aversão ao risco, logo após o Trump em novembro, o quadro tem melhorado. A percepção de risco tem recuado. O CDS Brasil (Credit Default Swap, espécie de seguro contra calote de dívida) tem recuado há várias sessões e, de pouco em pouco, a gente vê uma queda expressiva.

O setor bancário, que tem forte peso no Ibovespa, apresentavam desempenho misto nesta quinta-feira. As ações do Banco do Brasil recuaram 0,24%, a R$ 28,58. Itaú PN subiu 2,16%, a R$ 35,90, enquanto os papéis ON subiram 0,19%, a R$ 31,06. Já o Bradesco avançou 1,11% na ação PN, a R$ 30,14, e 0,57% na ON, a R$ 30,13. Segundo Rey, não foi uma sessão muito expressiva, mas dado o peso no índice, acaba contribuindo para sua valorização.

De acordo com o economista da Guide, a expectativa pela redução dos juros no Brasil também contribuiu para a valorização do mercado acionário no país:

— Há um quadro de perspectiva que o Banco Central pode intensificar os cortes de juros, especialmente porque o nível da atividade está bastante fraco, como mostrou hoje o dado do IBGE (sobre a produção industrial). Então, aumentou essa expectativa de redução a partir desta próxima reunião do Copom. Esperamos um corte de 0,5 ponto percentual e o mercado começou a precificar isso, o que contribuiu para a valorização das ações — avalia.

Já pelo cenário externo, ele afirma que a melhora na percepção de risco é favorável para mercados emergentes, como o Brasil:

— Depois de um momento de maior aversão ao risco, logo após o Trump em novembro, o quadro tem melhorado. A percepção de risco tem recuado. o CDS Brasil (Credit Default Swap, espécie de seguro contra calote de dívida) tem recuado há várias sessões e, de pouco em pouco, a gente vê uma queda expressiva.

MERCADOS INTERNACIONAIS

Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones perdeu 0,21%, já o Nasdaq avançou 0,20%, enquanto o S&P 500 recuou 0,08%.

Na Europa, os índices abriram em queda, com investidores cautelosos após a ata do Fed, mas atenuaram as perdas ao longo dos pregões, chegando a registrar ligeiras altas. Em Londres, o FTSE 100 ganhou 0,08%; em Frankfurt, o Dax subiu 0,01%; em Paris, o CAC 40 oscilou 0,03% no campo positivo.

Os principais índices acionários da China tiveram pouca variação nesta quinta-feira, depois de três sessões altas, com a atenção dos investidores sendo desviada para uma recuperação forte do iuan no mercado externo. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, recuou 0,02%, enquanto o índice de Xangai teve alta de 0,21%. O índice Nikkei, na Bolsa de Tóquio, fechou com queda de 0,37%.