Ex-ministro da Defesa entre fevereiro de 2018 e janeiro deste ano, o general Joaquim Silva e Luna, disse que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, perdeu sua estratégia para se manter no poder. “Ele perdeu suas alianças, perdeu suas parcerias, perdeu seu argumento. Não tem nada que o sustente para estar lá. A legitimidade perdeu desde o início, perdeu o apoio da comunidade internacional. Se sustentar é impossível”, afirmou, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast. Ele assumiu nesta semana o cargo de novo diretor-geral de Itaipu.
Maduro, na avaliação do general, precisa construir sua saída, com apoio da comunidade internacional. “A permanência dele lá prolonga o sofrimento do povo e faz com que o nível de tolerância da comunidade internacional fique cada vez mais estressado. Acho que é uma questão de tempo, mas ele pode não ser tão curto quanto a gente precisa que seja”, disse.
“Alguém tem que ajudá-lo (a sair), a comunidade internacional, não digo que seja 'a' ou 'b', mas ver qual a saída que ele precisa ter”, sugeriu o general. Questionado sobre se o Brasil poderia ser essa opção, ele riu. “Seguramente, não.”
Para Silva e Luna, o Brasil tem trabalhado com sabedoria diante da crise da Venezuela. O general já morou na região da fronteira e avalia que a ajuda humanitária é a melhor opção, no lugar do uso da força. Ele disse ainda que o alongamento da crise prolonga o sofrimento do povo venezuelano.
“Em vez de esticarmos a corda, estamos considerando que aquele país é vítima de alguém que nem existe mais lá. Então, estamos enxergando o povo venezuelano. O foco do Brasil não está sendo o presidente ou não sei quem. E, para esse povo, se tem que sair o presidente, sim, aí é outra coisa. Acho que estamos vendo a questão com sabedoria e sensibilidade extraordinárias”, afirmou.
“Eu acho que buscar enfrentamento e trazer mais sofrimento para aquele povo seria a última das soluções para essa época que vivemos no mundo. Não vejo dessa forma. Em qualquer ação de força, quem vai sofrer é o povo venezuelano”, acrescentou.
Anne Warth, O Estado de S.Paulo