Partido mais invejado na Esplanada dos Ministérios, com o comando de três pastas importantes (Casa Civil, Saúde e Agricultura), e à frente da Câmara e do Senado, o DEM não tem ainda nem previsão de quando vai decidir sobre um apoio formal ao governo Bolsonaro.
Consumida por disputas internas e com insatisfações na bancada semelhantes a de outros partidos, a legenda não reúne sua Executiva desde o ano passado porque há uma promessa de que o tema seja o primeiro a ser debatido.
Parte da legenda resiste a dar um apoio formal por ver problemas na articulação política do Planalto, enquanto outros argumentam que esse é o caminho obrigatório.
falta de uma declaração formal do DEM tem sido apontada por vários partidos como um dos motivos para adiar decisões semelhantes.
O presidente do DEM, ACM Neto, depois de ter prometido decisão até este mês, agora evita marcar data. Ele diz apenas que a posição será tomada “no momento certo”:
— É preciso entender com maior profundidade a estratégia de articulação do governo e, no momento certo, vamos reunir a Executiva e deliberar.
O líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA), escancara o motivo de não haver deliberação. De acordo com ele, não há garantia hoje de que a Executiva aprove um apoio formal ao governo se a reunião acontecer no curto prazo:
— Se fizer uma reunião desse tipo hoje não vai ser positivo para o governo. Então, é melhor não fazer, conversar primeiro, deixar as coisas funcionarem melhor.
As principais queixas são similares as de outros partidos. Além de o governo não ter efetivado sua política para ocupação de cargos e liberação de emendas aos aliados, há reclamações sobre o tratamento dispensado por integrantes do Executivo.
Nascimento relata que deputados do partido têm tido dificuldade em ser recebidos por ministros.
O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos expoentes da bancada evangélica, é outro a fazer reclamações de forma pública:
— Tenho todo interesse que o governo dê certo. Mas se o governo seguir o caminho da falta de interlocução política, e já são dois meses, vai ser difícil. É um governo que ganhou com a marca da antipolítica, de que nenhum partido presta, mas vai precisar da classe política. Eu tenho voto segmentado, não quero cargo, mas conheço a Casa e sei que, se o governo não respeitar o Congresso, não vai ser aprovado o que o país precisa. No caso do DEM, como vamos decidir sobre um apoio formal se o governo nem pediu para que façamos parte da base?
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, por sua vez, entende que a legenda precisa fazer a declaração formal rapidamente. Ele afirma que eventuais insatisfações pontuais não podem contaminar uma decisão de apoio ao governo, que teria vinculação com bandeiras programáticas:
— Agora é hora de se convocar a Executiva para que a matéria seja colocada na pauta. O partido não vai negar neste momento a nossa doutrina partidária. Nossos princípios são mais relevantes do que qualquer outra coisa e insatisfações não excluem isso.
Um dos vice-presidentes do DEM, o ex-deputado Alberto Fraga considera o apoio ao governo como automático:
— Acho que a coisa está tão explícita que o DEM é da base. No meu entendimento, é um dos partidos mais privilegiados pelo governo. Dizer que o DEM não é da base é até uma insanidade.
Eduardo Bresviani, O Globo