O primeiro indício de que o trem das “esquerdas brasileiras” perdera os freios – e, sem controle, começara a avançar sobre estações, pessoas e cidade, a exemplo do bólido de ferro descarrilado do filme “Incontrolável”, de Ray Scott, com Denzel Washington no papel do velho maquinista que tenta “segurar o bicho” e evitar o desastre maior – , pintou com a defesa do regime bolivariano, seguida da presença destacada da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, na posse de Nicolás Maduro, para o seu segundo governo na Venezuela em transe.
O aviso amarelo foi aceso em Salvador, no começo de fevereiro. Palestrante convidado dos grupos da chamada “terceira via”, – para falar sobre o tema “Os desafios da conjuntura para o desenvolvimento nacional”, na Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE), no campus minado da Universidade Federal da Bahia, – Ciro Gomes recebeu vaias e foi chamado de corrupto por claques do PT e do PSOL. Reagiu ao estilo inaugurado pelo irmão Cid, às vésperas do petista Fernando Haddad ser batido por Jair Bolsonaro , e começar a diáspora atual.
“Eu estou solto. Eu sou limpo. Lula está preso, babacas”, disse antes de puxar a faca: “Desculpa, não sou eu que condenei o Lula. Não está na minha mão liberar Lula. Eu avisei que se a direita ganhasse as eleições, o Lula ia ficar encarcerado por muito mais tempo. Todo mundo pode vomitar a paixão que quiser, mas enquanto a gente ficar assim, acreditando em minorias ínfimas, esmagadoramente derrotadas… companheiros, nós fomos humilhantemente derrotados por essa estratégia. Insistir nela afunda o Brasil”, avisou, antes de pegar o boné e ir embora da festa da UNE na UFBA.
O sinal vermelho acendeu semana passada em Berlim, no festival de cinema da Alemanha, Berlinalle 2019. No comício contra o Governo Bolsonaro, promovido pelo atual dublê de ator e diretor Wagner Moura, na noite de apresentação de seu filme, “Marighella”, que redundaria em triplo e estrondoso fiasco político, ideológico e cinematográfico. Vale contextualizar:
Na coletiva sobre “Marighella”, – o diretor, acompanhado de 30 membros da equipe artística e técnica do filme, em ambiente tenso, explosivo, marcado por “muita raiva e emoção”, segundo relatos de correspondentes, agências de notícias e enviados especiais ao festival europeu – Wagner Moura botou mais lenha na caldeira: “Nós iniciamos o filme em 2015, depois do golpe de Estado (o impeachment de Dilma Rousseff). Não é uma resposta a um governo em particular. Espero que meu filme seja maior que o atual Governo de Bolsonaro, e é a primeira resposta da cultura a esta situação. “Marighella” fala de alguém que resistiu naquela &eacut e;poca e se dirige a quem resiste agora: a comunidade LGBT, os negros, os moradores das favelas…” Restou o rotundo insucesso de crítica sobre o filme brasileiro, na Berlinalle.
Mas o trem não parou com o choque na Alemanha. Esta semana, em Portugal, o ex-deputado Jean Wyllys, do PSOL, apareceu na Universidade de Coimbra, em palestra sobre o tema “Discursos de ódio e fake news da extrema-direita e seus impactos nos modos de vida de minorias sexuais, étnicas e religiosas – o caso do Brasil”. O novo arauto ambulante das esquerdas escapou, por um triz, de uma ovada, lançada por um dos descontente com a presença e a fala de Wyllys em Portugal.Enquanto avança a locomotiva sem freios, sobram perguntas: Até onde, quando e por que?.
Vitor Hugo Soares é jornalista
Com Blog do Noblat