A Operação Bastilha, desencadeada pela Polícia Civil do Distrito Federal na tarde de domingo, 17, em celas da Penitenciária da Papuda, em Brasília, apreendeu um manuscrito em poder do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula). Na mensagem, o petista fala em ‘visita fora do horário’.
“Chamou atenção que o caderno do José Dirceu tinha um manuscrito em que ele escreveu que teria que pedir autorização para o Luiz Estevão para ter acesso de um visitante. Ele anotou, não me lembro a frase especificamente: ‘pedir para o Luiz Estevão conseguir a visita de um menor fora do horário’. Algo neste teor, mais ou menos”, afirmou o delegado Fernando Cesar Costa, da Operação Bastilha.
Dirceu está na Papuda desde maio, quando o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) negou seu recurso derradeiro e abriu caminho para a execução da pena imposta a ele na Operação Lava Jato – 30 anos de reclusão.
Os agentes da Operação Bastilha fizeram buscas nas celas onde estão presos o ex-ministro Geddel Vieira Lima e o ex-senador Luiz Estevão, que divide a cela com Dirceu.
Estevão foi condenado a 26 anos de reclusão por desvios de recursos públicos nas obras do Fórum Trabalhista de São Paulo. Geddel foi preso no ano passado depois que a Polícia Federal descobriu um bunker atribuído a ele, em Salvador, com R$ 51 milhões em dinheiro vivo.
As investigações sobre supostas regalias na Papuda começaram há quatro meses.
“A suspeita é essa (que Luiz Estevão tenha influência na Papuda), reforçada pela cela dele que só estão ele e o Dirceu. Se a gente for ver, por exemplo, o Geddel divide a cela com mais dez presos. Ele está só com o Dirceu na cela”, relatou o delegado. “Surgiram indícios de várias regalias, acesso a itens não permitidos e informações de que ele seria o ‘dono da cadeia’, que ele seria o mandachuva.”
O delegado Thiago Boeing afirmou que ‘chamou atenção’ Luiz Estevão estar em uma cela com apenas mais um preso. “Na ala dele (Luiz Estevão), em média, tem 7 presos em uma cela. A cela dele, além de ser uma cela um pouquinho maior do que as outras, tem somente duas pessoas”, disse.
Boeing contou que ‘assim que os policiais chegaram na cela do Luiz Estevão foi determinado que se retirasse’.
“Ele pediu para ir ao banheiro, estava com algum objeto na mão. Não foi autorizado. Ele saiu com a mão na cabeça e tentou se desfazer de cinco pen drives que estavam na mão dele, mini pen drives, bem pequenos. O policial visualizou jogando no chão e apreendeu esse objetos”, relatou.
“Posteriormente à retirada dele da cela, também foram localizados alguns gêneros alimentícios, dentre eles chocolates e cereais. Vai ser verificado junto à Vara de Execução Penal se é autorizada ou não a presença desses objetos na cela, bem como uma tesoura, que é objeto proibido dentro do presídio. Também foram apreendidas diversas anotações.”
O delegado afirmou que na biblioteca da ala de Estevão havia ‘diversos documentos relacionados a ele, diversas pastas’.
“Biblioteca mais parecia um escritório dele do que de uma área de uso comum dos outros presos”, disse. “São diversos documentos separados por pastas, de temas de interesse dele e das empresas. Diversos documentos, umas quatro pilhas. Vão ser analisados.”
Segundo Boieng, ‘na cela do Geddel foram localizadas somente anotações diversas que vão ser analisadas’.
O delegado Maurílio Coelho relatou que Estevão foi chamado para explicar os objetos encontrados em sua cela. “Ele estava bem tranquilo, justificou que aqueles objetos sempre estiveram ali.”
COM A PALAVRA, A DEFESA DE JOSÉ DIRCEU
O criminalista Roberto Podval disse que ainda não foi informado sobre o resultado das buscas na cela do ex-ministro José Dirceu na Papuda.
“Ainda não sei efetivamente o que foi apreendido. Prefiro aguardar para depois me manifestar”, declarou Podval.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE LUIZ ESTEVÃO
A reportagem está tentando contato com a defesa do ex-senador Luiz Estevão.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE GEDDEL
A reportagem está tentando contato com a defesa do ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Julia Affonso, O Estado de São Paulo