Os recém-formados grupos de renovação política estão ajustando suas expectativas para as próximas eleições, indica reportagem do Estado. O que antes parecia ser um caminho fácil, dada a rejeição da população aos políticos já estabelecidos, agora recebe uma avaliação mais realista. Na medida em que se aproxima a campanha eleitoral, torna-se evidente que não basta se apresentar na cena política como novidade para alcançar sucesso nas urnas. Quem almeja entrar na política tem um longo e árduo caminho para conquistar o voto do eleitorado – e isso não é necessariamente ruim.
Em setembro do ano passado, o movimento RenovaBr, que oferece bolsa de estudos para candidatos aos Legislativos federal e estaduais, estimava que poderia eleger entre 70 a 100 nomes. Atualmente, a expectativa é eleger 20% dos 131 bolsistas que concorrerão nas próximas eleições. No caso da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), um movimento de formação de lideranças políticas, falava-se em eleger de 60 a 80 deputados. Agora, o grupo não divulga projeções, para não criar falsas expectativas.
Há quem veja nas dificuldades encontradas pelos novos movimentos políticos uma confirmação dos defeitos do sistema eleitoral. Os políticos teriam conseguido, uma vez mais, dificultar a renovação política. O atual sistema tem muitas falhas, mas é equivocada a disjuntiva entre o novo e o velho na política, como se o País estivesse a presenciar uma luta entre o bem e o mal.
Nem todos os que se apresentam como novos na política são necessariamente bons. Há o novo autoritário, o demagógico, o que deseja implodir a política, o que não respeita a separação dos Poderes, o que tolera e até incentiva agressões às garantias individuais. Como é óbvio, as ideias ruins não são uma exclusividade de quem já exerceu mandato político. Tem muita gente que deseja estrear na política defendendo propostas profundamente equivocadas para o País.
É saudável para a democracia que haja filtros no sistema político. Logicamente, esses filtros não devem ser barreiras intransponíveis, a eliminar completamente a possibilidade de renovação. Mas sempre o caminho da política exigirá um aprendizado. Para uma efetiva contribuição ao País, os agentes políticos precisam ter mais do que boa intenção.
As dificuldades enfrentadas pelos movimentos de renovação da política revelam uma característica iniludível da política: ela não é feita por amadores e tampouco com amadorismo. Para ser eficaz – para conseguir promover as mudanças de que o País necessita –, a política deve ser conduzida com seriedade e profissionalismo. Antes de mais nada, é preciso respeitar as regras da própria política.
Muita gente tem reclamado, por exemplo, da necessidade de se filiar a um partido político para concorrer a um cargo nas eleições. Tratam essa condição como se fosse um limitador de uma possível candidatura. Dentro de um partido, argumentam, não seria possível exercer o cargo com completa liberdade, pois sempre haveria a necessidade de prestar contas a outras pessoas, na estrutura partidária.
Se alguém pensa que estar filiado a um partido é um grilhão aos seus ideais políticos, é melhor que não entre na política, pois ela exige, desde o primeiro momento, disciplina, capacidade e disposição para a negociação – e não apenas com os integrantes de sua legenda. Com imposições, não se faz política numa democracia. Nesse regime, só se avança com políticos que, embora tenham convicções arraigadas, saibam dialogar e negociar com outros partidos.
Mais do que provocar um sentimento de frustração, o ajuste das expectativas dos movimentos de renovação deveria ser um sinal muito positivo. Indica que esses grupos estão, de uma forma ou de outra, em contato com a política real – e não apenas no plano ideal, do qual pouca coisa prática se pode esperar. O País tem carência de lideranças políticas capazes de elaborar e concretizar propostas audazes, factíveis e realmente transformadoras. Tais lideranças podem ser “novas” ou veteranas. O importante é que sejam comprometidas com os ideais republicanos e atuem com honestidade.