Perto da meia noite de domingo estou ligado no canal privado de TV que transmite o programa “Manhattan Connection”, ancorado pelo jornalista Lucas Mendes, direto de sua bancada em Nova York. Cidade de ressonância planetária onde o juiz federal Sérgio Moro foi o mais comentado e polêmico personagem da semana passada. Duplamente homenageado por entidades norte-americanas: a Câmara do Comércio Brasil Estados Unidos, onde recebeu o título de Personagem do Ano, e a Universidade Notre Dame, na qual o implacável magistrado, – contra corruptos e corruptores no Brasil – fez discurso de honra na solenidade de formatura da turma de Direito. Até aí nem se falava em movimento de caminhoneiros e, nem de longe, se imagina o tamanho do desastre a caminho nas cargas inflamáveis dos caminhões pelas estradas do Brasil.
Dentro dos recintos, aplausos de pé e até apelos de “Moro Presidente”. Do lado de fora, grupos bem azeitados de “ativistas de esquerda” vaiam e agridem o juiz de Curitiba, ou a qualquer passante que eles considerem um apoiador daquele que condenou e levou à prisão o ex-presidente da República e fundador do PT, Luís Inácio Lula da Silva, aclamado nos protestos em NY. Mandou para a cadeia, também, entre outros, o ex todo poderoso presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do PMDB, e agora – depois de 20 anos de chicanas protelatórias – o tucano ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo.
Lucas Mendes foi alcançado pela turba, durante as manifestações contra Moro. No programa passado, ele falou das agressões que sofreu, com as marcas explícitas do ódio, ignorância intelectual e preconceitos de todo tipo, a começar pelo sexual, que prosperam nestes dias temerários. Ao chegar sozinho e atrasado, no Museu de História Natural de NY, o jornalista convidado para a cerimônia, na qual era homenageado também o ex-prefeito de NY,, Michael Bloomberg, foi surpreendido, logo nos primeiros passos rumo à escadaria para o auditório da homenagem. Mendes foi identificado por um manifestante, que o apontou aos gritos: “Olha lá a bicha do Manhattan!”.
E começaram as agressões : “Veado”, “golpista safado”, “direitista da Globo”. O tom virulento subia na medida em que, a cada três degraus que avançava, Mendes acenava e mandava beijos para a turba enfurecida: “filho da puta, vai tomar no…”. Mais não conto.
E desembocamos nesta semana de maio, da maior e mais contundente mobilização de caminhoneiros na história recente do País. Em cinco dias, o protesto contra a alta do diesel “colocou o governo Temer (MDB) de joelhos”, sintetiza o El Pais. “Forçou a Petrobras a alterar, por enquanto temporariamente, a política de preços de combustível da estatal, um dos símbolos da gestão Pedro Parente, incensado por investidores financeiros”. Calculadamente 500 mil caminhoneiros “fizeram um país refém”, na definição de William Bonner, no JN. Na noite de quinta-feira o governo anunciou um “acordo” para suspensão, por 15 dias, o movime nto que começou a provocar desabastecimento, caos, oportunismo político, ladroagem e usura de maus empresários. Das 11 entidades das negociações, duas se recusaram a aceitar o “mel na chupeta” incluído no pedido de trégua do governo, e abandonaram a mesa do acordo. Nesta sexta, o caos do impasse só aumentava. E Temer jogou o pepino no colo das Forças Armadas e dos governadores. Vamos ver!.
Vitor Hugo Soares é jornalista