segunda-feira, 28 de maio de 2018

Entenda por que a greve dos caminhoneiros ainda não acabou


Caminhoneiros mantém protesto na Régis Bittencourt, apesar de tentativa de acordo do governo - Marcos Alves / Agência O Globo

Dimítrius Dantas e Elisa Martins, O Globo



Apesar das propostas anunciadas na noite de domingo pelo governo federal, caminhoneiros continuam parados em algumas rodovias do país. O GLOBO conversou com motoristas que não desistiram da mobilização para tentar explicar por que eles não aceitam as três medidas sugeridas pelo governo de Michel Temer: redução do preço do litro do diesel em R$ 0,46, garantia de que o desconto chegará às bombas de combustível e suspensão da cobrança do pedágio do eixo suspenso.

Na rodovia Regis Bittencourt, em Embu das Artes, principal ponto de mobilização da Grande São Paulo, os caminhoneiros dizem que a proposta feita domingo não é suficiente. 

Eles afirmam que não seguem nenhuma confederação ou sindicato. A cada hora, propõem novas demandas, que vão de mais desconto no preço do diesel e mais tempo de previsibilidade para o valor à renúncia de Temer, passando por intervenção militar. Apesar disso, não há nenhuma cobrança concreta ao governo.

Muitos motoristas admitem que não deixam a estrada também porque seus patrões não mandam e que se as empresas ameaçassem cortar salário, por exemplo, largariam o protesto.

Parte dos motoristas é influenciada por informações que recebem pelo whatsapp, que dizem, entre outras coisas, "se ficarmos na estrada até meia-noite, o Temer cai" ou "pode haver um referendo para revogar o mandato".

Apesar de trocar tantas mensagens, a falta de informação é o que caracteriza os integrantes do movimento: não há um direcionamento claro sobre os próximos passos do movimento e nem sobre sua estrutura. Um dos caminhoneiros ouvidos pelo GLOBO disse que só deixaria o local quando as medidas de Temer fossem publicadas no Diário Oficial, o que já ocorreu. Informado da publicação dos decretos, disse que esperaria um papel com a confirmação. O motorista, de Chapecó (SC), disse depender do direcionamento de sua empresa.

— Quando eu receber a mensagem do dono da empresa lá de Brasília, eu saio — disse.

DIESEL A R$ 2,50

Outra parte do grupo se mostra particularmente insatisfeito com a proposta sobre a redução no preço do diesel:

— A redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel já tinha sido considerada e não atende às nossas expectativas. Queremos que o diesel baixe a R$ 2,50 na bomba, além de isenção total do PIS/Cofins — diz Rodrigo Teixeira, um dos porta-vozes escolhidos pelo grupo num dos bloqueios da rodovia.

Os manifestantes se reúnem várias vezes ao dia em frente a um posto de gasolina na estrada. As determinações que saem dessas reuniões são então repassadas por grupos de Whatsapp a outros pontos de paralisação.

— Quando começou a greve, não achávamos que ia tomar essa dimensão. Eu mesmo não acreditava. Mas agora que chegamos aqui, temos que continuar — disse um caminhoneiro parado há dias na Regis Bittencourt.

Informalmente, alguns motoristas defendem que o governo Temer garanta concessões mais amplas à categoria pelo menos até dezembro.

— Se eu fosse o Temer, faria isso. Aí depois os caminhoneiros discutem com o próximo governo. Se ele não estiver do nosso lado, em janeiro paramos de novo —, diz outro motorista.

FROTA TENTA NEGOCIAR

No início da tarde, o ator Alexandre Frota, que recentemente se filiou ao PSL de Jair Bolsonaro, esteve no bloqueio acompanhado de um advogado, cuja função seria formatar as propostas dos caminhoneiros e mandar para o governo.

Frota se reuniu com homens identificados como porta-vozes do movimento por quase duas horas. Na saída, segundo ele, disse estar presente apenas como um apoiador do movimento e disse querer que a crise termine logo porque "o país está um caos". O ator, que disse estar sem gasolina, embarcou no carro do advogado que forneceu ao movimento.

Após a reunião, uma das lideranças afirmou que outra pauta de reivindicações foi enviada ao governo por meio do advogado fornecido por Frota. Ele não quis revelar quais eram os pedidos. Em relação às propostas de Temer, foi taxativo:

— Não tem acordo — disse.

BOATOS ALIMENTAM PROTESTOS

O principal boato que convence os manifestantes é o de que, caso o protesto vá até meia-noite, o Exército daria um golpe. A proposta de intervenção militar é a mais repetida entre os integrantes do movimento. Caminhoneiro há quatro anos, Edson, que não quis dar seu sobrenome, afirmou que não gostaria que as Forças Armadas tomassem o poder mas que não vê outra saída.

— O Brasil virou um país sem lei. Onde estão a CUT, a UGT (centrais sindicais) por aqui? Eles não representam a gente, por isso que esse movimento está durando tanto, porque todo mundo concordou — disse.