segunda-feira, 28 de maio de 2018

Acordo com caminhoneiros faz ação da Petrobras cair 14% - Ibovespa recua 4,48%; dólar vai a R$ 3,729



Dólar, a moeda oficial dos EUA - Jose Luis Gonzalez / Reuters

Ana Paula Ribeiro, O Globo



A solução encontrada pelo governo federal para tentar colocar fim à paralisação dos caminhoneiros despertou um sinal de alerta entre os investidores. A mais atingida por esse pânico é a Petrobras, que fechou em queda de mais de 14%. A queda dos papéis da estatal contamina outros setores e faz o Ibovespa, principal índice local, chegou ao final do pregão com recuo de 4,48%, aos 75.355 pontos. Essa foi a maior desvalorização desde a repercussão da delação da JBS, há pouco mais de um ano. O dólar comercial subiu forte, a R$ 3,729, uma valorização de 1,63% ante o real.

Pesaram para esse resultado o temor de um risco de ingerência sobre a Petrobras, os efeitos da paralisação na economia e o que foi encarado como falta de controle do governo federal sobre a situação.


- Se estabeleceu uma pressão de venda muito acima do que seria razoável, quase chegando ao pânio. Os investidores sentiram que o governo perdeu um pouco do controle e isso traz muitas incertezas e afasta o investidor. O dólar subindo forte também corrobora para essa sensação avaliou Alexandre Wolwacz, diretor da Escola de Investimentos L & S.
Wolwacz acrescentou ainda que há o temor do presidente da Petrobras, Pedro Parente, deixar o cargo. Ele é tido como o principal responsável pela recuperação dos números da empresa nos últimos trimestres.

As ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras despencaram 14,59%, cotadas a R$ 16,91 e as ordinárias (ONs, com direito a voto) recuaram 14,06%, a R$ 19,79.
Na avaliação de Luis Gustavo Pereira, analista chefe da Guide Investimentos, há uma preocupação generalizada dos ivnestidores com os rumos da economia daqui para frente. 

De um lado, há o temor de que a paralisação possa interromper o processo de retomada da economia que estava em curso. Do outro, incerteza em relação ao cenário político e eleitoral.

- A paralisação está afetando o humor dos investidores. Algumas fábricas estão parando e está difícil prever os desdobramentos na economia e nas eleições. A gente tinha um processo de retomada que parar. É um conjunto de incertezas - avaliou.

Operadores do mercado tentam encontrar um equilíbrio entre o impacto positivo de um possível fim da greve dos caminhoneiros e a fragilidade do governo, o que pode abrir caminho para mais protestos de outras categorias.

As medidas adotadas pelo governo, que incluem um subsídio para o preço do diesel, o que deve piorar a situaçao das contas públicas, e a preocupação em relação à permanência do presidente da Petrobras elevam a cautela por parte dos investidores.

"O governo continua com extrema dificuldade em negociar, fruto da sua baixa credibilidade política. O Senado Federal convocou sessão extraordinária hoje para votar projetos com urgência relacionados ao tema. É esperado um impacto negativo no consumo por causa da defasagem no abastecimento", avaliaram, em relatório, os analistas da Levante Investimentos.

QUEDA GENERALIZADA NA BOLSA

Ainda entre as ações mais negociadas, os papéis dos bancos também caíram forte. As instituições financeiras possuem o maior peso na composição do índice. As preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco recuaram, respectivamente, 4,22% cada. No caso do Banco do Brasil, o tombo foi de 7,34%.

Outra estatal, a Eletrobras, também afundou nesta segunda-feira. As preferenciais caíram 9,51% e as ordinárias recuaram 7,81%.

As empresas ligadas ao setor de transporte também tiveram forte retração, em especial asconcessionarias que administram rodovias. Além da subvenção ao diesel, uma das medidas anunciadas pelo governo é liberar a cobrança de pedágio para o terceiro eixo de caminhões caso não estejam com carga.

Os papéis da Ecorodovias recuaram 6,17% e os da CCR registraram tombo de 4,52%. No caso da Triunfo, o recuo foi de 7,69%. As açoes da Rumo Logística recuaram 4,92%.
Apenas dois papéis estavam em terreno positivo. As ações da Suzano subiram 1,53% e as da Fibriam, 1,13%. Ambas as empresas são exportadoras e se beneficiam da valorização do dólar.

JUROS EM ALTA

Os juros no mercado futuro também operam em alta, mesmo com o Tesouro Nacional atuando na oferta de títulos públicos. Os contratos de janeiro de 2019 subiram de 6,675% para 6,755%. Para 2020, passaram de 7,59% para 7,71%.

Wolwacz, diretor da L & S, lembra que há um temor de que o desabastecimento causada pela greve eleve os preços, o que pode contribuir para a mudança das expectativas de inflação. Por essa razão, os juros sobem mais forte, esperando uma alta de juros por parte do Banco Central (BC) já neste ano. A Selic está em 6,50% ao ano. Na última reunião, era esperado um corte de 0,25 ponto percentual. No entanto, a autoridade monetária alegou que os riscos externos justificariam uma manutenção.

A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgou ainda que houve uma forte oscilação nos índices que medem a o comportamento dos títulos públicos. Esse indice de renda fixa, chamado de IMA, rechou 0,37%. Considerando só os prazos mais longos, a queda foi ainda maior, de 1,24% no caso do IMB-B 5+, que é composto por títulos com vencimento acima de cinco anos.