Relações com chineses são importantes demais para serem tratadas nos padrões convencionais
Aestreia internacional do presidente Michel Temer deu-se em setembro passado na reunião do G-20, em Hangzhou, na China. Até ali, o mundo observava atentamente o que acontecia no Brasil. Mudanças de governo geram expectativas nas demais nações que esperam preservar ou incrementar as suas relações comerciais e os investimentos feitos no país em questão.
Temer agora tem pouco mais de dois anos para concluir o seu mandato e parece dispor de poucas condições para deixar uma marca pessoal na política externa brasileira. Por este motivo, a diplomacia brasileira tende a atuar no “modo automático” até 2018, isto é, sem iniciativas ousadas e sem uma diplomacia presidencial que tanto marcou os anos FHC e Lula. O que comandará a política externa é a urgência da superação da crise econômica.
A China, como maior parceiro comercial do Brasil, estava preocupada em saber se a relação bilateral sofreria mudanças significativas com o governo Temer. Afinal, o país estava adaptado aos quase 14 anos de relacionamento com o Brasil sob a Presidência do PT — ainda que a política externa de Dilma Rousseff tenha sido incompreensivelmente tímida se comparada com a diplomacia de Lula.
Com o governo Temer, as relações sino-brasileiras tendem a continuar evoluindo sem retrocessos, ainda que com mais vantagem para os chineses. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), anunciado por Temer, prevê a concessão ou venda de mais de 30 projetos nas áreas de energia, aeroportos, rodovias, portos, ferrovias e mineração. A China é um dos poucos países com capacidade para participar dos leilões. E, por ocasião do G-20, firmaram-se negócios bilionários, tais como a venda de aviões da Embraer,
investimentos na Petrobras, construção de siderúrgica no Maranhão e participação chinesa na CPFL Energia.
As relações com a China são importantes demais para serem tratadas dentro de padrões convencionais de diplomacia. É preciso atentar para o fato de que se trata de uma liderança mundial com alto grau de influência sobre o futuro da humanidade.
Será um equívoco querer avançar na relação bilateral sem levar em conta os espaços políticos e institucionais a que a China atribui significativa importância — ainda mais quando o próprio Brasil é parte integrante e fundadora de alguns destes espaços, como é o caso do Brics, do Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) e do G-20.
Além disso, o aprofundamento de uma parceria estratégica com a China implica não só uma atuação positiva nestes fóruns, mas também uma melhor relação com aquele país.
Por este motivo, reuniões como a VIII Cúpula do Brics que aconteceu em Goa, na Índia, neste fim de semana, são ocasiões perfeitas para o Brasil afirmar os seus compromissos com a China e com iniciativas que alargam o campo de visão de nossa diplomacia para além do Atlântico Norte e Sul.