Aécio Neves (PSDB-MG) fará o único discurso possível diante da terceira derrota consecutiva dentro de sua própria casa, Minas Gerais. Dirá que, como presidente nacional do PSDB, conduziu o partido a uma vitória sem precedentes nas eleições municipais em todas as unidades da federação.
É verdade, mas não muda o fato central para o xadrez partidário do qual ele é protagonista ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). No duelo surdo que os tucanos travam pelo poder na legenda, em 2016, o vitorioso é o paulista.
Alckmin lançou um candidato neófito e conquistou a maior prefeitura do país, São Paulo, no primeiro turno, com João Doria. Aécio escolheu apadrinhar um veterano, o deputado João Leite, numa eleição em que a rejeição à política marcou de forma inegável todo o pleito, seja na vitória dos "outsiders", seja no número elevadíssimo de abstenções, votos brancos e nulos.
Aliados do mineiro já ensaiavam na véspera um discurso de honra para a vitória de Alexandre Kalil (PHS) sobre Leite. "Se Kalil vencer, não será uma derrota do Aécio, mas de toda a classe política", disse um deputado federal muito próximo ao tucano. "Kalil não se colocou apenas contra o PSDB, mas contra todos", concluiu.
O fato é que no momento em que a população sinaliza que prefere ficar ao lado de quem diz não ser político, Alckmin puxou a peça certa para o centro do tabuleiro. Aécio pode começar a analisar sua derrota por aí: no mínimo, escolheu o candidato que vestia o figurino do político tradicional na pior hora possível.
O mineiro, que em 2014 perdeu a eleição presidencial e o governo de Minas, vê agora seu patrimônio político minguar em Belo Horizonte, onde havia vencido há dois anos, conquistando quase duas vezes mais eleitores do que sua então rival, a ex-presidente Dilma Rousseff.