A despeito da alta dos indicadores de confiança em vários setores, ainda não se vislumbra recuperação da atividade econômica. Os dados relativos a produção e vendas indicam nova queda do PIB no terceiro trimestre, e as notícias sobre o mercado de trabalho continuam particularmente ruins.
No trimestre encerrado em setembro, a taxa de desemprego atingiu 11,9% (descontados efeitos sazonais). São 12 milhões de pessoas que procuram trabalho e não encontram—alta de 963 mil em relação ao trimestre anterior e de nada menos que 3 milhões em um ano.
O crescimento só não foi maior porque muitas pessoas param de procurar emprego e, com isso, deixam de fazer parte da população economicamente ativa (PEA).
O problema é mais agudo entre os trabalhadores formais. Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) têm apontado fechamento de 100 mil a 150 mil postos por mês (descontados efeitos sazonais), padrão que se manteve em setembro.
Tal constatação não surpreende. O mercado de trabalho costuma ser o último a reagir às oscilações da economia. Como contratar e demitir são medidas custosas, as empresas evitam alterar o quadro de pessoal. Uma vez iniciado, porém, o movimento tende a ser persistente.
Verdade que, devido a essa inércia, o mercado de trabalho nem sempre constitui um bom indicador para antecipar tendências. Mesmo assim, a profundidade do colapso do emprego e da renda sugere que a recuperação será lenta.
As empresas têm hoje grande capacidade ociosa e fizeram ajustes de custo e produtividade. Quando houver expansão das vendas, não precisarão contratar tão cedo —daí por que o consumo das famílias não tende a ser um dos vetores iniciais da volta do crescimento.
A esperança de retomada vem de alguns setores em melhor situação. A agropecuária, por exemplo, deve ter forte aumento de safra e rentabilidade em 2017. O setor, incluindo prestadores de serviço e indústrias associadas, monta a 20% do PIB.
Quanto ao investimento, a disposição para resgatar projetos dependerá da queda dos juros nos próximos meses. Se, como se espera, for consolidada a perspectiva de taxas próximas a 10% em 2017, a confiança em alta logo se traduzirá em ações concretas.
No conjunto, porém, permanecerá certa desconexão entre a provável sensação de melhoria em alguns setores e a letargia do emprego e da renda.
Tornar esse hiato o menor possível requer foco nas reformas e consolidação dos fatores que permitam a queda dos juros quanto antes.